Veja - Edição 2661 (2019-11-20)

(Antfer) #1
20 de novembro, 2019 105

scórdia


coroa pesada Olivia, como
Elizabeth, e Menzies, como Philip:
choque das esferas política e pessoal

por esta nova leva de episódios, de
1964 a 1977, coincida em suas linhas
gerais com um retrato da Inglaterra
dos dias de hoje. Estão ali, sem tirar
nem pôr, o descontentamento social,
a polarização política e as perspecti-
vas econômicas lúgubres, assim co-
mo as tribulações da dinastia reinan-
te. A partir daí, Morgan organiza um
ataque em três flancos: primeiro, faz
drama de grande estirpe, envolvente
e empolgante; recria alguns eventos
marcantes da história recente do Rei-
no Unido e recupera outros menos
conhecidos; e, finalmente, deixa uma
consideração ó a de que essa é uma
nação que já resistiu a um sem-núme-
ro de abalos profundos, e é portanto
provável que, desde que não perca a
si mesma de vista, sobreviva ao
Brexit, ao racha entre os príncipes
William e Harry e a qualquer outra
crise que venha a surgir. E as crises
vão vir, sugere Morgan, porque elas
são em grande parte o tecido de que a
Inglaterra se faz e refaz.
Quanto à própria The Crown, ela
consegue passar incólume pelo que
poderia ser um golpe irreparável para
uma série: a decisão de continuar
uma mesma história com uma substi-
tuição praticamente integral do elen-
co. Claire Foy foi estupenda como a
jovem monarca das duas primeiras
temporadas ó mas Olivia Colman,
recém-premiada com o Oscar pelo
papel da rainha Anne em A Favorita,
está soberba como a Elizabeth II da
meia-idade, embora pouca semelhan-
ça física tenha com a figura real ou
com a atriz que a antecedeu. Também
Helena Bonham Carter em nada se
parece com Vanessa Kirby, que inter-
pretava a princesa Margaret, a insa-
tisfeita irmã menor da rainha ó mas
acerta na dosagem de narcisismo e
frustração. Philip saiu ganhando:

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