brasil Política
40 20 de novembro, 2019
que essas ideias. Não por falta de pre-
tendentes, mas pela ausência de uma
liderança natural nesse campo. Atual-
mente há pelo menos quatro poten-
ciais presidenciáveis (uns mais à direi-
ta, outros à esquerda) nessa fatia do
espectro político ó João Doria, Lucia-
no Huck, João Amoêdo e Rodrigo
Maia. Mas, por motivos diversos, ne-
nhum deles consegue hoje assumir
essa condição. “Para a população é
muito fácil identificar os extremos. Já
o centro não tem uma cara definida”,
afirma Mauro Paulino, diretor-geral
do Datafolha. Ainda que não admita
publicamente, Doria é o que mais tem
se empenhado em viabilizar sua can-
didatura e surgir como alternativa.
Sua principal estratégia é fazer de sua
gestão em São Paulo uma vitrine,
principalmente em crescimento eco-
nômico e segurança pública, sem per-
der de vista a agenda social. Na última
terça, 12, ele visitou a região do Vale
do Ribeira, uma das mais pobres de
São Paulo, e lançou ali projetos de ge-
ração de emprego e empreendedoris-
mo. Na economia, tem se esforçado
para trazer investimentos america-
nos, chineses e japoneses para o esta-
do. Além disso, quando a hora chegar,
vai investir na comparação com Huck,
mostrando que, não bastasse ter su-
cesso na iniciativa privada, possui ex-
periência na vida pública, o que faz
dele um candidato mais confiável.
Confiança, aliás, será a palavra-chave
na construção da sua plataforma. Ele
quer deixar claro que pode melhorar a
vida do brasileiro e dos investidores,
com estabilidade e cumprindo o que
promete. Outra aposta do tucano é
nas eleições municipais de 2020, com
a conquista de prefeituras importan-
tes que lhe dariam uma rede de apoio
estadual para o voo nacional. O desa-
fio de ganhar espaço fora de São Pau-
lo, porém, se reflete no desempenho
ExEmplo Doria: esforço para fazer de São Paulo uma vitrine para o país
não puder concorrer em razão da Lei
da Ficha Limpa, tem poder para reor-
ganizar as forças dentro desse espec-
tro político, e nada melhor que um
presidente com tendências ditatoriais
para Lula exercer sua verve de “pro-
tetor dos pobres” e dos direitos hu-
manos. Bolsonaro também sai no lu-
cro. A volta de um Lula radical pode
ter o efeito de levar o presidente a rea-
glutinar em torno dele os eleitores
que vinham se desapontando com seu
governo, já que o fantasma do retorno
do petismo ainda seria o mal maior.
Em um possível confronto entre ele e
Lula nas eleições de 2022, o capitão,
por enquanto, se sai melhor, vencen-
do por 46% a 38%, conforme mos-
trou o levantamento VEJA/FSB.
Tal estágio de polarização, basea-
do no ódio e na repulsa ao outro, tor-
na o ar bem mais rarefeito para as
forças políticas de centro, que que-
rem se apresentar com argumentos
equilibrados e racionais. Em um am-
biente conflagrado, fica difícil para
um político (ou para o leitor de VEJA)
defender pautas da direita, como a li-
berdade econômica e as privatiza-
ções, e adotar algumas ideias da es-
querda, como os programas sociais,
dentro de um governo que respeite a
democracia, as liberdades indivi-
duais e os direitos humanos. O risco é
não agradar a ninguém com essa
postura. Quando prega maior liber-
dade na economia, essa pessoa pas-
sa a ser vista como “bolsominion”,
amante da ditadura ou contra o abor-
to. Quando apoia programas de dis-
tribuição de renda, é encarada como
“petralha”. Tamanha simplificação
da política, ancorada em rótulos e as-
sociações mentirosas, só traz divi-
dendos para os extremos, dificultan-
do o diálogo e a criação de uma alter-
nativa baseada no bom-senso.
Um dos maiores obstáculos para
que o centro ocupe hoje o espaço entre
Bolsonaro e Lula é justamente a ine-
xistência de um rosto que personifi-
Governo do estado de são Paulo
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