20 de novembro, 2019 43
DESAFETO Witzel: eleição apoiada
por Bolsonaro e aliado do clã até dizer
que também queria a Presidência
algum momento gerará interesse por
uma terceira via. De fato, o Brasil já
viveu ó e superou ó outros momen-
tos agudos de radicalização política,
caso do segundo governo de Getúlio
Vargas, entre 1951 e 1954, e da gestão
de João Goulart, entre 1961 e 1964.
“Um resultou no suicídio do presiden-
te, e o outro no golpe militar que le-
vou à ditadura”, lembra a historiadora
Lilia Schwarcz. Nas últimas décadas,
Itamar Franco destacou-se como fi-
gura de centro ó ele herdou o fiasco
do governo Collor sem provocar so-
bressaltos e teve a sabedoria de apos-
tar no Plano Real. Michel Temer se-
guia um caminho parecido de recons-
trução do país pós-PT até ser abatido
pelas denúncias de corrupção. No pe-
ríodo de redemocratização, no entan-
to, nenhuma figura encarnou tão bem
o dom da moderação quanto Tancre-
do Neves, que articulou a sua eleição
pelo Congresso pavimentando de for-
ma pacífica o fim do regime militar.
“Não são os homens, mas as ideias
que brigam”, ensinava ele. O Brasil
precisa exatamente disso: de menos
insultos e de mais soluções. ƒ
Rede, PSB e PV, criar uma alternativa
de centro-esquerda e isolar o petis-
mo. “Fora o PCdoB, aliado histórico
do PT, não sei qual aliança eles (petis-
tas) vão fazer”, diz Carlos Lupi, presi-
dente do PDT. O sonho é livre, mas
mesmo quem não gosta do Lula sabe
que ele hoje é o líder inconteste da es-
querda. Do outro lado, eleito na onda
bolsonarista e há pouco afastado do
clã presidencial justamente após dei-
xar claro que almeja o Planalto, Wit-
zel teria dificuldades de ir em direção
ao centro, muito em razão da sua po-
lítica de segurança pública, ideologi-
camente tão à direita quanto a do ca-
pitão. Realmente será muito compli-
cado ocupar um espaço já dominado
pelas figuras de Lula e Bolsonaro,
com quem ambos são identificados e
de alguma forma disputam.
Os mais otimistas defensores da
volta ao centro acham que a política
do ódio, um jogo de tamanha intensi-
dade e que terá de ser jogado por tanto
tempo, pode levar à busca por vozes
mais moderadas. Na visão dessa cor-
rente, além da saturação do tom béli-
co, o vazio de ideias dos radicais em
pois de uma experiência fracassada da
direita. Ainda não há no horizonte de-
monstrações de que esse estado de es-
pírito dê sinais de arrefecimento. Ao
contrário. A frustração com o status
quo é o combustível que faz com que
os humores do eleitorado balancem de
um extremo ao outro. “As pessoas que
foram demitidas ou que viram seu sa-
lário perder poder de compra ficam
mais suscetíveis aos discursos radi-
cais”, afirma o ex-embaixador Rubens
Barbosa. O caso brasileiro tem ainda
uma peculiaridade: o enfraquecimen-
to de toda a classe política, a partir dos
inúmeros escândalos de corrupção le-
vantados pela Lava-Jato. O PT é exce-
ção porque seus seguidores são como
torcedores de um clube de futebol.
Mesmo que o time ganhe com um pê-
nalti inexistente, continuam a defen-
der suas cores. Para Bryan McCann,
professor de história brasileira da Uni-
versidade Georgetown, em Washing-
ton, a perda de representatividade do
MDB, que ocupava esse lugar de fiel
da balança desde a redemocratiza-
ção, deixou um vazio, apesar de todos
os inúmeros defeitos do partido. “O
MDB sempre teve esse papel de aba-
far extremismos ideológicos”, diz.
Verdade. Mas outra fórmula precisa
ser criada. Afinal de contas não dá pa-
ra construir equilíbrio com práticas
reprováveis e corrupção.
Se a situação já é difícil para Doria
e Huck, mais desafiador ainda é o ta-
buleiro para candidatos que estão
mais próximos dos extremos, como o
ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o ter-
ceiro colocado no primeiro turno de
2018, e o governador do Rio de Janei-
ro, Wilson Witzel (PSC). Ciro sentiu -
se traído pelo ex-presidente e pelo PT
na eleição do ano passado, quando
Lula atuou para esvaziar suas alian-
ças eleitorais, e agora pretende, com
Carlos magno
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