Veja - Edição 2661 (2019-11-20)

(Antfer) #1
20 de novembro, 2019 63

As acusações contra Ghosn são
quatro, e vieram em etapas. A primei-
ra delas diz respeito à suposta sone-
gação de impostos sobre cerca de 44
milhões de dólares, metade do valor
que teria recebido como remuneração
entre 2010 e 2015, incluindo bônus e
salários. A denúncia foi feita por ex-
executivos da companhia em sistema
de delação premiada. Ghosn também
é acusado de usar os recursos corpo-
rativos indevidamente. Entre os be-
nefícios recebidos ó e não declarados
ó estariam residências de luxo no
Rio de Janeiro, Paris, Amsterdã e Bei-
rute, além da festa que celebrou o ca-
samento e o aniversário de 50 anos
da noiva, a americana Carole Ghosn,
no Palácio de Versalhes, na França
(veja a entrevista com Carole na pág.
ao lado). Com a prisão, a Nissan de-
mitiu o então CEO sumariamente, e
pouco tempo depois ele foi destituído
da liderança da Mitsubishi. A saída
da Renault foi um pedido do próprio
Ghosn, em janeiro deste ano. Há ain-
da denúncias de desvio de dinheiro
para empresas de amigos e transfe-
rência de um prejuízo de milhões de
dólares em um mau investimento
pessoal para a Nissan.
Apesar de alegar inocência, Ghosn
fechou um acordo com o governo dos
Estados Unidos para encerrar uma
ação civil que o acusava de ocultar
parte de seus salários ó iniciativa que
incluiu a Nissan como ré. Ele concor-
dou em pagar multa de 1 milhão de
dólares e se comprometeu a não assu-
mir cargos executivos nem no conse-
lho de companhias pelos próximos
dez anos. O acordo enfraquece a tese
de inocência, mas seus advogados in-
sistem que os processos no Japão es-
tão repletos de ilegalidades. Procura-
das, as autoridades japonesas não se
pronunciaram. Tampouco as empre-
sas atenderam aos pedidos de entre-
vista. Para tentar resolver o proble-
ma, classificado como político, a fa-
mília de Ghosn apelou para Macron

(Ghosn tem cidadania francesa e liba-
nesa, além da brasileira), Trump e
também Jair Bolsonaro com o pedido
de que os chefes de Estado interce-
dam junto ao primeiro-ministro japo-
nês Shinzo Abe para, ao menos, mar-
car o julgamento. Em nota, o Itama-
raty afirmou que presta assistência
consular ao executivo.
Independentemente da culpa ou
inocência de Ghosn, o escândalo que
envolve seu nome foi um desastre
corporativo. A fusão entre Renault,

Nissan e Mitsubishi de fato naufra-
gou. Mas o mercado entendeu que as
denúncias e sua prisão foram extre-
mamente prejudiciais às três empre-
sas ó todas amargam perdas de cer-
ca de 30% em valor de mercado.
“Ghosn é um visionário, foi um dos
primeiros a debater carros elétricos.
As empresas perderam um grande lí-
der”, avalia Milad Kalume, sócio da
consultoria automotiva Jato Dyna-
mics. Não houve perdedor maior, en-
tretanto, do que o próprio Ghosn. ƒ

dias de glória Ghosn com a tocha olímpica no Rio: prestígio global

à vontade Encontro com Emmanuel Macron em Paris: amigo de autoridades

LUdovIC mArIn/AFP

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