23,4
13,4 1 6 ,1
51,6 52,3
48,7
42,9*
40
60
80
100
60
75
90
A FUGA DAS VERDINHAS
Investidores estrangeiros estão
indo embora do Brasil
RETIRADA DE RECURSOS
NO SISTEMA FINANCEIRO
(em bilhões de dólares)
PARTICIPAÇÃO EM FUSÕES
E AQUISIÇÕES
INVESTIMENTOS DIRETOS NO PAÍS
(em bilhões de reais)
2013 20142015 2016 2017 2018 2019
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
20132014 2015 2016 2017 2018 2019
*Até outubro
**De outubro de 2018 a setembro de 2019
Fontes: S&P e BCB
75
70 **
76%
46%
20 de novembro, 2019 65
quarta-feira passada, 13, o indicador
caiu 3,5%, na direção oposta à dos
mercados internacionais. Como com-
paração, o Dow Jones, o principal ín-
dice da Bolsa de Nova York, subiu
0,3%. O movimento de fuga se soma à
frustrante tentativa de venda de cam-
pos de petróleo a petroleiras globais e
à baixa participação do capital inter-
nacional nos negócios fechados no
Brasil. O temor aparece num momen-
to em que se espera maior participa-
ção da iniciativa privada na retomada
econômica. Sem o ingresso de dólares
no país, isso fica mais difícil. As priva-
tizações e as concessões, por exem-
plo, correm o risco de micar. E o país
não consegue se virar sem os gringos.
Somente para explorar o pré-sal no
ritmo esperado pelo governo é neces-
sária a injeção de 2,3 trilhões de reais
nos próximos dez anos.
Alex Agostini, economista-chefe da
agência de avaliação de crédito Austin
Rating, diz que, ao avaliar a perfor-
mance de uma nação para seus clien-
tes, todo o contexto é analisado. Re-
gião geográfica, grupo de países a que
a nação pertence ó desenvolvido,
emergente ou subdesenvolvido ó, si-
tuação política, pauta econômica, his-
tórico, uma variedade enorme de indi-
cadores entra no cálculo. Obviamente,
a pauta do governo agrada aos foras-
teiros. A agenda de reformas, a venda
de estatais, a abertura do mercado de
gás e a negociação de acordos comer-
ciais com os Estados Unidos e o de livre-
comércio com a China ó anunciado
nesta semana ó são positivas e rece-
bem aplausos lá fora. Mas isso não
basta. “O contexto no qual o Brasil está
inserido não ajuda”, afirma Agostini.
“Além disso, não há segurança jurídica
para investir. Na área de energia, por
exemplo, a cada novo governo muda o
marco regulatório”, critica.
Isso explica, e muito, por que entre
janeiro e outubro deste ano já foram
embora do Brasil 42,9 bilhões de dó-
lares do sistema financeiro ó setor
que inclui bolsa, bancos e aplicações
em renda fixa. Tal ritmo de retirada,
calculado pelo Banco Central, é o
maior desde que a marolinha da crise
internacional de 2008 se transformou
no tsunami que varreu o Brasil em
- Os Investimentos Diretos no
País (IDP) também estão em queda.
Nos últimos doze meses, ingressaram
70 bilhões de dólares, 8,4% a menos
do que foi investido em 2018. No ano
passado, segundo a Organização das
Nações Unidas, o Brasil já havia caído
de sexto para sétimo destino de inves-
timentos no mundo. A tendência é
piorar em 2019. A agenda de reformas
avança, mas a passos lentos demais
para afastar de vez a crise fiscal. No
continente, a convulsão social de Chi-
le, Bolívia, Venezuela, Equador, entre
outros, contamina negativamente a
avaliação de empresas e investidores,
incluindo o capital mais especulativo.
“Os estrangeiros olham o Brasil den-
tro desse pacote maior de mercados
emergentes, e, quando veem que os
Estados Unidos estão com um cresci-
mento mais forte, ficam por lá. Por isso
há maior dificuldade para convencê -
los a investir aqui”, avalia Emerson
Leite, do banco Credit Suisse.
Pioram essa avaliação episódios
de comédia pastelão como o protago-
nizado em maio por Ernesto Araújo,
ministro das Relações Exteriores, e
Letícia Catelani, então diretora da
Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimentos (Apex)
ó os grandes responsáveis por ven-
der o país mundo afora. Letícia, que
foi indicada para o cargo pelo clã Bol-
sonaro, entrou em rota de colisão
com diretores da agência ao denun-
ciar, sem detalhes nem provas, que
“contratos espúrios” estavam sendo
mantidos pela Pasta. Foi exonerada e
impedida de entrar no edifício, crian-
do uma enorme saia-justa para o Ita-
maraty. Não há confiança que resista.
Há, contudo, quem acredite no re-
torno rápido dos dólares. Leonardo
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