20 de novembro, 2019 75
turquia
os bons companheiros
em visita a Washington, o presidente turco conta com a simpatia de Trump para seguir
colhendo trunfos na política externa e recuperar a popularidade perdida dentro de casa
Na mira do Congresso e da Justiça
nos Estados Unidos por vários atos
contrários aos interesses do país, o
presidente turco Recep Tayyip Erdo-
gan foi, no entanto, recebido em
Washington, na quarta-feira 13, com
sorrisos e afagos por Donald Trump.
Explica-se: Erdogan é o tipo de sujei-
to de que o presidente dos EUA gosta
ó autoritário, conservador e pródigo
em salamaleques para agradar a ele.
Atolado em problemas dentro de casa,
Erdogan, 65 anos, há dezesseis no po-
der, tem demonstrado talento para
aparar limões e produzir limonadas
na política externa, recuperando as-
sim o prestígio interno que a recessão
econômica e a repressão política vêm
almas gêmeas Erdogan e Trump se encontram na Casa Branca: o americano ajuda o turco a ficar bem na foto
solapando. “Ele vê Trump como al-
guém fácil de ser manipulado”, resu-
me Howard Eissenstat, especialista
em Oriente Médio da Universidade
St. Lawrence, nos Estados Unidos.
O golpe de mestre do presidente
turco foi dado em outubro. Em conver-
sa por telefone com Trump, ele o con-
venceu a retirar os soldados america-
nos estacionados no norte da Síria, na
fronteira com a Turquia. Em seguida,
pôs-se a aniquilar os curdos, etnia que
qualifica de “terrorista” e que, até en-
tão, era a maior aliada dos Estados
Unidos na região, o que atiçou a ira até
de republicanos no Congresso ameri-
cano. Para agradar a outro colega “di-
fícil”, o russo Vladimir Putin, ele com-
prou, por 2,5 bilhões de dólares, um
sistema antiaéreo da Rússia ó transa-
ção proibida pela Otan, aliança da qual
a Turquia faz parte. Por essas e outras
ó como a suspeita de que autorizou
bancos turcos a receber 20 bilhões de
dólares em transferências do Irã, igno-
rando o bloqueio econômico ao país ó,
a Turquia está sob ameaça de duras
sanções dos Estados Unidos. Em outra
frente, na Europa, Erdogan diz que vai
“abrir as portas” para 3,6 milhões de
imigrantes retidos na Turquia se não
receber recursos para devolvê-los à
Síria. O encontro em Washington é um
grande passo para limpar sua barra. ƒ
Ernesto Neves
Tom brenner/reUTerS
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