Veja - Edição 2661 (2019-11-20)

(Antfer) #1
foi atrelado a uma frase que se perpe-
tuou. Depois de a bola entrar à esquer-
da de Andrada, Pelé foi até a rede, pe-
gou a pelota, beijou-a e, cercado por
microfones, avisou: “Não quero festas
para mim. Acreditem que eu acho
muito mais importante ajudar as
crianças pobres, os necessitados. Va-
mos pensar no Natal dessa gente to-
da”. Foi o primeiro pronunciamento,
digamos assim, político de Pelé. É o

caso de medi-lo a olhos contemporâ-
neos. As crianças que passavam fome
em 1969 eram retrato de um país desi-
gual que, no índice Gini, usado para
medir a pobreza, estava em 0,581.
Piorou. Agora está em 0,625.
Em entrevista aos repórteres Luiz
Felipe Castro e Alexandre Senechal, de
VEJA, Pelé, aos 79 anos, entra num tú-
nel do tempo particular para justificar
o famoso comentário social. “Dias an-
tes, em Santos, vi uns garotos tentando
roubar uns carros. Eu falei: ‘O que vo-
cês estão fazendo aí, moleques?í. Eles
ainda tentaram se justificar, dizendo

que estavam mexendo só com veículos
de São Paulo. Eu disse que não podiam
roubar ninguém, caramba. Os garotos
nem ficaram com medo. Pode um ne-
gócio desse? Por isso veio a mensagem
do gol 1 000.” Para Pelé, se fosse hoje,
seria mais dramático, “porque está
todo mundo com arma, muito mais
violento”. Instado a aproximar ainda
mais aquela noite aos dias atuais, o
eterno craque faz uma confissão bem -
humorada que, ela sim, representa um
terremoto revisionista, um irresponsá-
vel desmancha-prazeres: “Se tivesse
VAR, não sei se seria pênalti”. É

Arquivo/Ag. o globo

20 de novembro, 2019 87

SANTOS Pelé, depois do milésimo gol
e hoje, ao comentar a famosa frase das
crianças: “Está tudo mais violento”

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