20 de novembro, 2019 95
saúde
Botox a jato
Clínicas em shopping centers oferecem serviço expresso
de aplicação da toxina botulínica e outros procedimentos.
Aviso: denúncias de tratamento malfeito são frequentes
Muito jÁ se falou sobre os en-
contros de Botox: uma senhora convi-
da as amigas para petiscos e espu-
mante e, no auge da reunião, as inte-
ressadas se submetem a uma sequên-
cia de picadas para alisar a pele do
rosto ali mesmo, na sala de visitas,
aplicadas por um médico que é a es-
trela da festa. Antes de ir embora, a
madame rejuvenescida faz seu che-
que, sempre com muitos zeros. O bate -
papo regado a toxina botulínica conti-
nua a existir, discretamente, mas as
agulhadas alisadoras estão deixando
de ser um tratamento para poucas.
Clínicas de Botox pipocam nos shop-
ping centers, oferecendo tratamentos
rápidos a preços módicos. Com riscos,
dizem os médicos. “Estão banalizando
cautela Aplicação: rapidez e preço mais baixo podem não valer a pena
um procedimento extremamente sé-
rio em locais que só têm interesse em
ganhar dinheiro”, alerta Niveo Stef-
fen, presidente da Sociedade Brasilei-
ra de Cirurgia Plástica.
Segundo país que mais faz cirur-
gias plásticas no mundo, perdendo
apenas para os Estados Unidos, o Bra-
sil é terreno fértil para a democratiza-
ção do Botox. Aberta no início do ano
em Porto Alegre, a Botoclinic já é
uma das maiores redes do ramo, com
sessenta unidades pelo país ó 100%
delas em shopping centers. O paciente
passa por uma avaliação gratuita de
quinze minutos e, conforme a opção
de tratamento, segue na mesma hora
para vinte minutos de agulhadas.
Voilà ó sai repaginado. Os preços, de
300 a 1 000 reais, podem ser dividi-
dos em até doze vezes no cartão (em
consultórios renomados, cada área a
ser botocada custa 1 000 reais).
A proprietária, Cristina Bohrer, é
cirurgiã-dentista, assim como a maior
parte de seus funcionários. A profis-
são luta na Justiça para legalizar o di-
reito de aplicar Botox. Uma lei de 2013
determina que apenas médicos po-
dem realizar tratamentos invasivos,
caso da aplicação da toxina botulíni-
ca, uma substância que provoca a pa-
ralisação de músculos e, se mal usada,
pode causar sérios efeitos colaterais.
Neste ano, porém, o Conselho Federal
de Odontologia (CFO) aprovou uma
resolução que regulamenta a prática
por cirurgiões-dentistas especiali-
zados em “harmonização orofacial”,
nome dado a uma técnica que come-
çou consertando o sorriso e hoje se es-
tende ao rosto todo. Segundo o CFO,
os profissionais formados nesses cur-
sos, com carga horária mínima de 500
horas, estão aptos a aplicar Botox e
realizar preenchimentos com outras
substâncias. A questão foi levada para
a avaliação do Ministério Público Fe-
deral, que ainda não se manifestou.
Os empresários Fernando Costa e
Rafael Mansilla, donos da rede Boto-
Center, com sede no Recife, clínicas
em shopping centers e marcação de
consultas por aplicativo e redes so-
ciais, também dão preferência a den-
tistas. “Eles têm formação em anato-
mia facial e grande destreza manual”,
argumentam. Realizado por dentistas
ou por médicos, o tratamento nas “lojas
de Botox” requer atenção redobrada à
qualidade dos profissionais e dos pro-
dutos utilizados. Sérgio Palma, presi-
dente da Sociedade Brasileira de Der-
matologia, diz que o órgão já recebeu
mais de 900 denúncias de procedi-
mentos malfeitos nesses estabeleci-
mentos. Na hora de alisar ou preen-
cher, todo o cuidado é pouco. ƒ
Bruna Motta
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