Veja - Edição 2661 (2019-11-20)

(Antfer) #1
20 de novembro, 2019 99

lação ao ângulo de visão do usuário. O
fundo atrás dessa tela é mantido escu-
ro, de modo que os observadores ve-
jam a figura em destaque. Alternan-
do-se a iluminação entre o fundo e a
figura, cria-se a ilusão de mágica apa-
rição e sumiço do personagem. Ainda
muito usada em parques de diversões,
a brincadeira atraiu camadas de tec-
nologia para renascer gloriosamente.
Hoje, o dublê é gravado em estúdio,
com câmeras de alta resolução, e o re-
sultado é submetido à manipulação
por meio de softwares de CGI (sigla
em inglês para “imagens geradas por
computador”), como os utilizados na
indústria cinematográfica ó que já
recriaram, por exemplo, uma versão
jovial de Arnold Schwarzenegger em
O Exterminador do Futuro: a Salva-
ção (2009) e prometem pôr James
Dean em uma produção sobre a Guer-
ra do Vietnã. A lógica, contudo, é
aquela mesma do século XIX.
Como todo avanço tecnológico
pressupõe novos desafios éticos, é na-
tural que os hologramas também pro-
duzam desconforto. Em 2008, quan-
do a ideia de tirar famosos do túmulo
prosperou como chamariz de público,
especialmente os mais saudosistas, o
pop star Prince chiou, antecipando-se
à polêmica. Disse achar inaceitável, a
não ser no cinema, e esbravejou: “Não
sou um demônio”. A grita não adian-
tou. Dez anos depois, em 2018, logo
após sua morte, Prince surgiu como
um “fantasma de Pepper” numa apre-
sentação durante o milionário inter-
valo do Super Bowl americano. Em
entrevista a VEJA, o americano Gary
Shoefield, vice-presidente da Base,
empresa responsável pela criação de
muitos dos avatares, aposta na aco-
modação de muxoxos em breve:
“Quando aparece algo novo, sempre
há críticas. Temos de nos ater ao fato
de que daremos às pessoas experiên-
cias que ficarão em sua memória para
sempre”. Sem dúvida, é divertido ó
mas pode ser também bem estranho. ƒ

apresentado pela primeira vez
nas salas de teatro da Lon-
dres vitoriana pelo inventor
John Henry Pepper (1821-1900) ó
no “fantasma de Pepper”, como ficou
conhecido, uma imagem luminosa é
projetada numa superfície semitrans-
parente posicionada a 45 graus em re-

45°

OS BASTIDORES DA ILUSÃO
Como funciona a tecnologia que virtualmente
ressuscita as personalidades, com base no caso
do show do americano Buddy Holly

Enquanto imita os movimentos
do músico, com a maquiagem
e o figurino apropriados, um ator
é filmado com uma câmera de
resolução cinquenta vezes maior
do que as disponíveis nas melhores
máquinas fotográficas do mercado.
Esse tipo de equipamento surgiu
apenas em 2013

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Sensores são acoplados ao
rosto e ao corpo do intérprete.
Captam-se os detalhes das ações,
que depois são registrados por
um software de CGI (sigla em
inglês para “imagens geradas
por computador”), responsável
também por trocar as feições do
ator pelas de Buddy Holly

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A reprodução do show é
realizada por meio da tecnologia
de captura de movimentos
(em inglês, motion capture) que
vem sendo usada por Hollywood
desde os anos 2000, em filmes
como Planeta dos Macacos
e Vingadores

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Até 2014, o holograma só podia
ser exibido em duas dimensões.
Naquele ano, fabricantes, como
a japonesa Epson, começaram
a aplicar tecnologias que
passaram a transpor as cenas
em três dimensões

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No palco, é feita a projeção — de
resolução no mínimo similar à de
televisores em 4K. Um espelho,
associado a uma tela translúcida
posicionada no ângulo de 45 graus,
reflete a imagem, na vertical,
colocando o artista “de pé”

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Projetor

Espelho

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