Aero Magazine - Edição 306 (2019-11)

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a cerca de 15 quilômetros de
distância, quando percebeu uma
irregularidade no funcionamento
do motor. Prudente, decidiu pou-
sar nos jardins, onde foi recebido
pelo Conde de Gallard. Com o sol
já se escondendo, achou melhor
aceitar o convite do anfitrião para
pernoitar. Dormia tranquilamen-
te em um aposento do castelo
quando alguém finalmente avisou
sua equipe e os repórteres que o
procuravam desesperadamente
pelas imediações. No domingo
seguinte, retomou os voos em
Saint Cyr, diante de centenas de
espectadores.

DOMÍNIO PÚBLICO
Realizado no Grand Palais da
capital francesa entre 25 de
setembro e 17 de outubro, o Salão
Aeronáutico de Paris teve uma
Demoiselle nº 20 – provavelmente
o avião de Santos Dumont –
exposta com destaque no estande
de Clément-Bayard, um fabrican-
te de automóveis que começava
a se aventurar na construção
aeronáutica. O modelo era anun-
ciado por 7.500 francos (algo
como 30 mil dólares atuais, mas
esse valor foi reduzido nos anos
seguintes), com o motor básico.
Havia opções mais potentes entre
quatro e oito mil francos. Ainda
que não fosse barato, o custo
total era menos da metade do
valor pedido por um Bleriot XI,
o aparelho usado por Luis Bleriot
para cruzar o Canal da Mancha
naquele mesmo ano.
O Demoiselle tornou-se um
dos aviões mais populares do
mundo. Sem necessidade de re-
torno financeiro, Santos Dumont

abriu mão dos direitos do projeto.
Nos meses seguintes, embora o
inventor não tenha divulgado
as plantas originais, revistas
especializadas como a francesa
l ’A é r o p h i l e, a britânica Flight e
American Mechanic e Popular
Mechanics dos EUA publicaram
os diagramas básicos do avião. O
motor original, entretanto, não
teve a mesma sorte. Como nada
havia sido documentado, Darracq
travou uma longa disputa com
o brasileiro sobre os direitos de
patente.
Mas não era essa a maior
dificuldade para quem tentava
construir um Demoiselle. O fato
é que, projetado para as carac-
terísticas físicas do seu pequeno
inventor (que pesava menos de 55
quilos), o avião recusava-se a dei-
xar o solo quando conduzido por
pilotos mais robustos. Era preciso
construí-lo em escala ligeiramen-
te maior e instalar motores mais
potentes para que voltasse a ser a
máquina voadora que encantara

Pilotos de circos
de demonstrações
aéreas, como o
suiço Edmond
Audemars,
apreciavam a
manobrabilidade
do Demoiselle,
menor e bem
mais ágil que os
concorrentes

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