Sabor Club - Edição 35 (2019-12)

(Antfer) #1

A VIAGEM DE FÉRIAS, com o pai, era para a
Itália. No meio do caminho, porém, havia uma
longa conexão em Paris, quando ele resolveu fazer
um tour relâmpago com a filha pela cidade onde
tinha morado, anos antes dela nascer.
Foi uma correria até entrarem na Stohrer,
a confeitaria mais antiga da capital francesa,
inaugurada no século 18. A parada então ganha
cores de revelação para a menina que cresceu
vendo as avós fazerem doce, no interior de Minas,
e ajudando com gosto, sempre que dava.
A vitrine linda, ela conta, lhe impunha um
desafio: escolher o doce que ia comer. Até os olhos


baterem numa tartelettes de framboesa e fazerem
um filme passar na sua cabeça. Ao ver as frutinhas
visivelmente fresquíssimas, ela lembra das histórias
que a mãe contava a respeito da época que, na
França, ia para o campo colher o que a terra tinha
acabado de oferecer. Algo comum por ali.
Durante os tempos de colheita, é possível
entrar nas lavouras, com um cesto debaixo do
braço, enchê-lo e pagar pelo o que está lá dentro.
Mariana diz com uma certa doçura no olhar:
“Eu achava aquela cena maravilhosa”. Até hoje a


tartelette é o seu doce preferido, feito também,
com perfeição, na sua La Parisserie, confeitaria em
Beagá onde a gente come doces franceses, como se
estivéssemos no seu país de origem.
A habilidade da confeiteira foi adquirida
durante um longo período na Le Cordon Bleu,
uma das escolas de gastronomia mais cultuadas
da França. Ela foi para lá depois que largou o
Direito e a ideia de ser diplomata porque era na
cozinha, fazendo doces, onde ficava realmente
feliz. Era para lá onde fugia todas as noites, após
o expediente. Por que não, então, mergulhar de
corpo e alma?

De volta ao Brasil, demorou um tico até
apresentar aos mineiros o que era a tal pâtisserie,
da qual, claro, tinham ouvido falar, mas não
tinham provado, de fato. É curioso dizer, mas
a primeira casa de Belo Horizonte dedicada as
doçuras da terra do Pierre Hermé foi a da
Mariana. Como assim?
No fundo, o mineiro é muito parecido com o
francês. Ao mesmo tempo em que leva a comida
realmente a sério, é consideravelmente fechado no
seu universo culinário. Que, falando em doçaria,

Jantar de sobremesas
Confeiteira lança ideia inédita e faz o maior sucesso

Logo que teve a ideia, a Mariana Correa correu para colocá-la em prática.
Depois da primeira edição, vieram mais duas, do tanto que foi bem falada. Agorinha, apresentou
mais uma temporada, desta vez para a seleta audiência que frquenta a CasaCor mineira.
A ideia, diz, é desconstruir a ideia de que doce é apenas sobremesa. Por isso, ela faz uma
refeição completa mas só com elementos doces, harmonizados com chás especiais.
Claro, há ingredientes como queijos e legumes. A proposta, afinal, é usar o mínimo de
açúcar possível e valorizar a doçura natural do ingredientes.
Então o comensal não sai enfastiado depois de uma sequência de meia dúzia de cursos.

“Os franceses valorizam muito o que eles conquistaram, sentem um orgulho
enorme pelo o que fazem. Em Minas é igual, só falta ligar as pontas”
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