National Geographic - Portugal - Edição 225 (2019-12)

(Antfer) #1
CRISENATUNDRA 89

em cerca de 180 postos de investigação do Alasca.
Contudo, estes sítios também sofreram nevões re-
centemente e o congelamento deslizou para Feve-
reiro e depois Março. Em 2018, oito dos locais estu-
dados por Vladimir, nos arredores de Fairbanks, e
uma dezena deles na península de Seward, nunca
chegaram a congelar por completo.
A nível mundial, o solo permanentemente ge-
lado contém até 1.600 gigatoneladas de carbono


  • quase o dobro do existente na atmosfera. Nin-
    guém espera que tudo, ou sequer a maior parte
    disso, derreta. Até há pouco tempo, os investiga-
    dores presumiam que o permafrost perderia, no
    máximo 10% do seu carbono. No entanto, pensa-
    va-se que isso demoraria até 80 anos.
    Quando a camada activa deixou de congelar no
    Inverno, tudo acelerou. O calor acrescido permite
    aos micróbios consumirem material orgânico do
    solo, emitindo dióxido de carbono ou metano ao
    longo de todo o ano, em vez de em apenas alguns
    meses do Verão. E o calor do Inverno penetra até
    ao próprio solo, descongelando-o mais depressa.
    “Muitos dos nossos pressupostos estão a cair
    por terra”, disse Róisín Commane, uma especia-
    lista em química. Róisín e os colegas descobriram
    que a quantidade de CO 2 vinda da vertente norte
    do Alasca durante o Inverno aumentou 73% desde



  1. “Estamos a tentar perceber o que se passa no
    Árctico observando o Verão”, mas a história come-
    ça depois de o Sol se pôr.”
    Alguns invernos com muita neve não bastam
    para chamar-lhe tendência. No Inverno passado,
    houve menos neve em Cherskiy e o solo voltou a
    arrefecer consideravelmente. Também caiu pou-
    ca neve em Fairbanks. Contudo, em alguns locais
    estudados por Vladimir Romanovsky, no Alasca,
    a camada activa voltou a reter calor suficiente
    para impedir o congelamento total.
    “É espantoso”, disse Max Holmes, director-ad-
    junto do Centro de Investigação de Woods Hole,
    que estudou o ciclo do carbono no Alasca e em
    Cherskiy. “Imaginava o degelo do permafrost como
    um processo lento e gradual e que talvez isto fosse
    uma fase de cinco anos diferente. Mas e se não for?
    E se a situação mudar muito mais depressa?


SE A MUDANÇA COMEÇAR A ALIMENTAR-SE a si
própria, como já acontece, por exemplo, no caso do
gelo marinho árctico? O gelo marinho reflecte os
raios solares, mantendo as águas frias por baixo da
superfície. No entanto, à medida que o gelo derrete,
as águas escuras absorvem esse calor, que, por sua
vez, derrete mais gelo.

Os solos antigos do
permafrost árctico, aqui
visíveis na parede da
cratera de Batagaika,
contêm os restos
orgânicos de folhas,
erva e animais que
morreram há milhares
de anos, durante a Era
Glaciar. Todo esse
carbono tem estado
retido, em segurança,
na terra congelada.

FOTOGRAFIA CAPTADA COM A ASSISTÊNCIA DE LUBOV KUPRIYANOVA

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