National Geographic - Portugal - Edição 225 (2019-12)

(Antfer) #1

Numa manhã do Verão de 1981, pouco depois
da estreia nas salas de cinema do filme “Os Sal-
teadores da Arca Perdida”, essas suspeitas foram
confirmadas. Guardas da Waqf descobriram um
destacado rabino derrubando um muro da época
das Cruzadas que selava uma antiga porta subter-
rânea, sob a plataforma sagrada. O rabino acredi-
tava que a arca perdida se encontrava escondida
sob a Cúpula do Rochedo, um dos mais antigos
e sagrados locais de culto do islão. Seguiu-se um
confronto físico subterrâneo e o primeiro-minis-
tro israelita, Menachem Begin, ordenou que a
porta fosse selada, antes que o conflito escalasse e
desencadeasse uma crise internacional alargada.
Quinze anos mais tarde, foi a vez de os judeus
israelitas exprimirem a sua indignação. Em 1996, a
Waqf transformou uma enorme sala colunada lo-
calizada sob a extremidade sudeste da plataforma,
chamada Estábulos de Salomão. O antigo arma-
zém poeirento passou a ser a grande Mesquita Al-
-Marwani. Três anos depois, o gabinete do primei-
ro-ministro israelita aprovava o pedido apresentado
pela Waqf de abrir uma nova saída para garantir a
segurança da multidão, mas sem informar a IAA.
Maquinaria pesada escavou rapidamente um
vasto fosso, sem supervisão arqueológica formal.
“Quando as notícias nos chegaram aos ouvidos e
mandámos parar os trabalhos, já tinham sido cau-
sados enormes prejuízos”, recorda Jon Seligman,
da IAA, que então era responsável pela arqueo-
logia de Jerusalém. Nazmi Al-Jubeh, historiador
palestiniano e arqueólogo da Universidade de Bir-
zeit, discorda. “Nada foi destruído”, afirma. “Eu
estava lá, vigiando as escavações, para assegurar-
-me de que não punham a descoberto quaisquer
camadas arqueológicas. Antes que o fizessem,
gritei Khalas! [“Basta!” em árabe]”.
Mais tarde, a polícia israelita mandou remover
as toneladas de terra resultantes da escavação.
Em 2004, um projecto financiado por privados
começou a peneirar esta terra e, até agora, já des-
cobriu mais de meio milhão de artefactos. Quan-
do visito o laboratório do projecto, o arqueólogo
Gabriel Barkay abre caixas de cartão contendo pe-
daços de mármore colorido que, segundo ele, são
provenientes dos pátios que rodeavam o Templo
Judaico. Jon Seligman e muitos dos seus colegas,
contudo, desvalorizam os achados, afirmando
que têm pouco valor, uma vez que foram desco-
bertos fora do contexto e poderiam ter sido depo-
sitados sobre a plataforma em períodos posterio-
res. “O paradoxo é que a maior parte dos materiais
destruídospelaWaqfseriaislâmica”, afirma.


Arafat Hamad senta-se
entre as ruínas da sua
cozinha exterior. Conta
que esta se desmoronou
quando os arqueólogos
israelitas abriram um
túnel por baixo de sua
casa. Este homem e os
vizinhos palestinianos
queixam-se de danos
dispendiosos, mas os
construtores do túnel
afirmam que a sua
engenharia é sólida.

NA OPINIÃO


DE MUITOS


PALESTINIANOS,


AS ESCAVAÇÕES


EM JERUSALÉM


E AS TENTATIVAS


PARA DESLOCÁ-


-LOS ESTÃO


INTIMAMENTE


LIGADAS.


22 NATIONAL GEOGRAPHIC

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