existência. Os trabalhos arqueológicos também
confirmam a afirmação da imperatriz Helena,
segundo a qual Jesus foi crucificado e enterrado
no sítio onde hoje se encontra a Igreja do Santo
Sepulcro. E a arqueóloga Eilat Mazar vai ao ponto
de defender ter encontrado o Palácio do Rei Da-
vid, o primeiro governante israelita de Jerusalém.
Numa manhã sossegada de sábado, o Sabbat
judaico, deparo com Eilat Mazar quando ela
deambula pelo parque da Cidade de David, onde
não se vê vivalma. Na extremidade nordeste da
crista, ela escavou um edifício com paredes es-
pessas junto de uma estrutura escalonada de
pedra que envolve a encosta abrupta. Fundamen-
tando-se na cerâmica que já descobriu, Eilat atri-
bui ao edifício a data aproximada de 1000 a.C., a
data tradicionalmente apontada para a conquista
da Jerusalém Jebusita pelos israelitas.
“Gosto de vir aqui quando há sossego para
pensar”, explica. Convida-me a descer os degraus
que conduzem ao passadiço metálico construído
NUMA MANHÃ de chuva miudinha, dirijo-me à
entrada dos túneis da Muralha Ocidental, junto da
praça repleta de homens de chapéus e casacos
negros. No interior, encontro uma amálgama de
balcões de recepção subterrâneos, zonas de oração
e escavações arqueológicas. Descendo o salão, a
partir de uma sinagoga de vidro e aço escorada den-
tro de uma escola religiosa medieval islâmica,
encontram-se latrinas romanas e um pequeno tea-
tro recentemente desenterrado (o primeiro desco-
berto na antiga Jerusalém) construído como parte
do processo de renascimento da cidade no
século II, sob o nome de Aelia Capitolina.
Encontro-me com Shlomit Weksler-Bdolah.
A minha interlocutora fala tão depressa como
anda. “Venha. Tenho de regressar lá abaixo”, diz
a arqueóloga, enquanto desce a saltitar as escadas
que cheiram a madeira acabada de serrar. No inte-
rior da câmara húmida, situada mais abaixo, três
jovens árabes de T-shirt manobram com destreza
uma rocha de duas toneladas pendurada em cor-
rentes de ferro. Como explica Shlomit, está a ser
deslocada para abrir aos turistas o acesso àquilo
que, no seu entender, seriam as salas para banque-
tes de cerimónia durante o reinado de Herodes.
Shlomit Weksler-Bdolah pede licença e ausen-
ta-se quando um engenheiro de capacete branco a
chama, lá de cima. Travam uma discussão longa e
acesa acerca de um segmento de argamassa ama-
rela que ele quer remover para colocar uma es-
cada metálica para os turistas. “Trata-se de arga-
massa do tempo dos romanos e é muito invulgar”,
conta. Este é o tipo de discussões que acontecem
regularmente debaixo das ruas de Jerusalém: o
que deve permanecer e o que deve ser sacrificado?
UM SÉCULO E MEIO DE ACHADOS nos subterrâneos
de Jerusalém fez abalar velhas crenças e deitar por
terra mitos há muito acarinhados. Muitos arqueó-
logos desdenham actualmente a visão bíblica da
capital refulgente do grande império do rei Salo-
mão. O famoso monarca nem sequer é mencionado
em qualquer achado arqueológico dessa época.
A Jerusalém primitiva era mais provavelmente uma
vila acastelada de importância secundária. A che-
gada do islão no século VII também não fez desa-
parecer o cristianismo, ao contrário do que os
historiadores pensaram durante muito tempo.
Muitas escavações mostram que pouco mudou no
quotidiano dos moradores cristãos.
No entanto, as escavações revelaram também
selos de argila impressos com os nomes de cor-
tesãos bíblicos, conferindo credibilidade à sua
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