National Geographic - Portugal - Edição 225 (2019-12)

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COMOSALVAROSPARQUESDEÁFRICA ́ 41

mato seco e floresta, alojando a maior população
de elefantes da RDC, bem como girafas de Cor-
dofão (uma subespécie criticamente ameaçada),
leões, hipopótamos, cobos do Uganda e outras es-
pécies de vida selvagem. Constitui o núcleo cen-
tral de um ecossistema que inclui três reservas de
caça adjacentes, nas quais é permitida alguma ex-
ploração por parte das comunidades locais.
A sua história está carregada de guerras e caça
furtiva militarizada. Os seus rinocerontes-bran-
cos-do-norte (outra subespécie em perigo crítico)
foram caçados quase até à extinção: apenas duas
fêmeas sobrevivem em cativeiro. Garamba parti-
lha 261 quilómetros de fronteira com o Sudão do
Sul, um país tumultuoso que lutou para se tornar
independente do Sudão nos primeiros anos deste
século e depois iniciou uma guerra civil.


Outras zonas conturbadas do Uganda e da Re-
pública Centro-Africana não se encontram longe.
A localização de Garamba, as suas zonas florestais
densas e o seu marfim transformaram-no numa
encruzilhada, numa tentação e, por vezes, num
campo de batalha para exércitos rebeldes e outros
intrusos perigosos durante mais de duas décadas.
No início de 2009, por exemplo, o Exército de
Resistência Lorde (LRA) – um grupo rebelde do
Norte do Uganda, conhecido por raptar crianças
para as usar como soldados ou escravas sexuais e
liderado pelo fanático Joseph Kony – emergiu do
seu refúgio no ecossistema de Garamba ocidental
e atacou uma aldeia perto da sede do parque, in-
cendiando vários edifícios e roubando uma gran-
de quantidade de marfim armazenado.
Os vigilantes da natureza resistiram, matando
alguns elementos do LRA e perdendo 15 dos seus
próprios membros. Poucos anos mais tarde, cerca
de mil rebeldes em retirada da guerra do Sudão do
Sul transpuseram a fronteira. Depois do último
grande ataque do LRA, o director-geral do ICCN,
Cosma Wilungula Balongelwa, sentiu-se muito
preocupado. “Eu quase perdera a esperança de
que fosse possível manter o equilíbrio”, disse-me
numa das suas visitas ao parque. Nessa altura,
Cosma perguntara a Peter Fearnhead se a AP po-
deria encerrar o projecto. “Peter recusou e garan-
tiu que a organização não abandonaria Garamba.”
Naftali Honig, antigo investigador de crimes re-
lacionados com vida selvagem (e bolseiro da Na-
tional Geographic), com sete anos de experiência
de perseguição a caçadores furtivos noutros locais
da África Central, é agora o director do Departa-
mento de Investigação e Desenvolvimento da
Garamba. O Parque já recebeu ajuda da National
Geographic e de outras organizações que desen-
volvem novas ferramentas de vigilância, como
sensores acústicos que conseguem distinguir um
tiro do som de um ramo a partir-se nas profunde-
zas do parque. “A African Parks deu uma ligeira
vantagem experimental a Garamba”, disse Nafta-
li Honig, lembrando que uma área protegida tão
grande enfrenta ameaças externas graves.
No entanto, as patrulhas no terreno continuam
a ser a arma de defesa mais importante. Um as-
sessor britânico chamado Lee Elliott explicou-me
o programa de treino. Lee juntou-se à AP depois
de uma carreira de 24 anos no exército: alistou-se
como soldado raso, foi subindo de patente e pres-
tou serviço militar no Afeganistão. Quando che-
gou a Garamba em 2016, havia pouca disciplina e
organização entre os vigilantes da natureza.
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