COMOSALVAROSPARQUESDEÁFRICA 49
usam as armas e assumem a responsabilidade de
defender os animais selvagens e a ordem dentro do
parque. Este ano, o grande dia começou quente e
límpido. Reunimo-nos no campo de manobras ao
final da manhã. Enquanto os dignitários e visitantes
se sentam sob uma tenda e cem vigilantes assumem
as suas posições, à vontade, no meio do campo, Pas-
cal Anguezi apresenta-se diante de nós. Com dois
metros de altura, parece imponente no seu uniforme
e boina verde, com um microfone sem fios na boche-
cha esquerda e uma espada de cerimónia na mão
direita. Vai ser o mestre-de-cerimónias hoje.
Às 11h25, o major deu ordem de sentido às tro-
pas. Um esquadrão de entretenimento constituí-
do por soldados do exército congolês, com a ban-
deira da RDC, entrou no campo, seguido de uma
pequena banda que tocava o hino nacional com
quatro trompetes, uma tuba, címbalos e dois tam-
bores. Um general passou revista aos vigilantes da
natureza, com Pascal Anguezi a seu lado. Agora,
já estava calor suficiente para ficarmos gratos pe-
las ventoinhas eléctricas que sopravam na galeria.
Foi então que começaram os discursos.
John Barrett, o gestor de Garamba, disse algu-
mas palavras em francês, manifestando o apreço
pelas tropas. “Dezanove vigilantes morreram aqui
em acção. Hoje lamentamos a sua perda.”
John Scanlon, enviado especial da AP, uma
espécie de embaixador global da organização,
abordou o tema do desenvolvimento sustentá-
vel das comunidades vizinhas e também (com
as alegações da WWF frescas na memória de to-
dos) a necessidade de temperar o fervor contra
os caçadores furtivos com respeito escrupuloso
pelos direitos humanos. Cosma Balongelwa, di-
rector-geral da ICCN, que se deslocara da capi-
tal, Kinshasa, especialmente para este evento,
falou sobre a parceria entre a sua organização
e a AP e, ao fim de meia hora de discurso, um
vigilante da natureza que estava na formação
desmaiou devido ao calor e foi transportado
para fora do campo. Por fim, sob as ordens inci-
sivas do major Anguezi, o desfile chegou ao fim:
os vigilantes integrados na formação saíram,
seguidos por quatro mulheres vigilantes, cinco
veteranos, 200 crianças em idade escolar com
uniformes azuis e brancos e, em último lugar, a
banda, brava e incansável. O dia terminou com
jogos da corda divertidos, durante os quais os
vigilantes jogaram contra soldados do exército
da RDC ou vigilantes contra vigilantes, oito ho-
mens de cada lado, arrastando-se pelo campo
de terra batida, puxando uma corda grossa. Lee
Elliott, o assessor britânico, supervisionava ale-
gremente a diversão.
Por esta altura começara a chuviscar. Os digni-
tários partiram antes de o dia ficar mesmo molha-
do. Os jogos da corda continuaram. Os chuviscos
transformaram-se numa chuvada torrencial.
A poeira deu lugar à lama escorregadia. Os vigilan-
tes da natureza, escorregando, caindo e levantan-
do-se para jogar mais, deram o seu melhor a pu-
xar a corda. Lee Elliott, encharcado e sujo, sorria,
cheio de orgulho, enquanto coordenava mais um
jogo. “Se não há chuva, não há treino”, disse Naf-
tali Honig. Depois, ele e os outros, incluindo eu,
subiram para os Land Cruisers e foram almoçar.
Nós fomos embora, os vigilantes da natureza
ficaram lá, a dar o seu melhor em condições difí-
ceis. Afinal, é o que fazem sempre. j