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O vale do rio de Colares
terá atingido o máximo
de água há cinco mil
anos, altura em que a
região também era
povoada por comunida-
des pré-históricas.
Existe aliás um monu-
mento funerário
neolítico junto da Praia
das Maçãs. O esteiro
navegável colocou
problemas de segu-
rança até ao século
XVIII, altura em que a
colmatação do vale
criou a popular praia.
A construção de uma
vigia manuelina para
garantir a segurança da
costa desencadeou os
achados de 1505.
Aoabrigodoprocessoemcursodefortificaçãoda
costa portuguesa, o rei mandara construir uma vi-
gia no local, mas as pás e os ferros dos operários,
ao revolverem o solo, abriram inadvertidamente
um portal para a Antiguidade. A seus pés, jaziam
agora três aras com estranhas frases gravadas.
O rei foi informado e visitou o local – sabemo-lo
através de duas cartas que Valentim Fernandes,
membro da corte que fora um dos responsáveis
pela introdução da imprensa em Portugal, escre-
veu a amigos na Alemanha. Nelas, narra a visita do
rei ao local e dá conta de um episódio ainda mais
curioso: Cataldo Sículo, um siciliano que viera para
o país em 1485 e que deverá ter trazido com ele os
ventos do Renascimento, acompanhou o rei na vi-
sita. Erudito, leu as frases em latim, interiorizou o
conteúdo e improvisou de seguida um epigrama
neolatino, explicando ao rei embevecido que as
aras homenageavam o império português, descre-
vendo a profecia das sibilas, que previa o dia em
que as pedras se virariam sobre si próprias e surgi-
riam à superfície na era maravilhosa em que as ri-
quezas dos rios Ganges e Indo entrassem pelo Tejo.
Em Agosto de 1505,
Dom Manuel I foi informado
de um estranho
acontecimento produzido
num morro sobranceiro
à Praia das Maçãs.
TEXTO DE GONÇALO PEREIRA ROSA
FOTOGRAFIAS DE MÁRIO RIO
ILUSTRAÇÕES DE ANYFORMS