Dossiê Superinteressante - Edição 398-A (2019-01)

(Antfer) #1
Colagem

Estúdio Nono

DesenhanDo um Continente 13

Do Antgo Egito ao Império Etíope, que


só acabou em 1974, as dinastas africanas


marcaram a história do mundo.


Para muitos de seus se-
guidores, era uma ques-
tão de fé: o imperador
da Etópia não poderia
morrer. Não tnha co-
mo. Afinal, de acordo
com certas interpreta-
ções cristãs, Hailé Se-
lassié era muito mais do que um homem de
carne e osso que assumiu o poder em 1930,
na suntosa corte em Adis Abeba, a capital do
país. Muito além do poder polítco absoluto
que detnha, ele também era uma fgura divina
e místca. Havia, inclusive, quem defendesse
que se tatava da própria encarnação de Deus.
Assim, para os mais devotos, Selassié podia
também ser chamado de Javé – ou, na termino-
logia difndida por aquela nova religião, de Jah.
Na primeira metade do século 20, descen-
dentes de africanos que haviam sido escra-
vizados na Jamaica começaram a constuir
uma nova corrente religiosa. Ela se baseava
em interpretações peculiares dos textos bí-
blicos e em uma visão de mundo que taça-
va as origens de tdo ao mais longevo dos

reinos então existentes no contnente negro:
o Império Etíope, também conhecido como
Abissínia. Cental para esse pensamento era
o culto à fgura do próprio monarca da época,
Hailé Selassié, que às vezes era chamado de
outa forma, como Ras Tafari Makonnen, títlo
que ajudou a batzar o movimento rastafári.
Tudo havia começado uma década antes
com uma profecia involuntária de um jamai-
cano chamado Marcus Garvey. Um dos nomes
mais infuentes de seu tempo, Garvey foi
um dos grandes pensadores do movimento
pan-africanista (leia mais nas págs. 38 a 41), e
suas ideias faziam sucesso em círculos cada
vez mais amplos de pessoas na ilha caribenha.
Defensor dos direitos da população negra
empobrecida que habitava as favelas de seu
país, ele também era um ferrenho ideólogo
“nacionalista”, mas seu amor à terra natva
era de uma vertente diferente do usual: sua
verdadeira pátia não era o local onde havia
nascido, mas o contnente ancestal de on-
de seus antepassados haviam sido trados à
força, séculos antes.
Em diversos discursos e textos, Garvey

Os reinos


ancestrais


texto Maurício Brum

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