Dossiê Superinteressante - Edição 398-A (2019-01)

(Antfer) #1
Antigas ruínas
de Cartago,
na Tunísia,
destruída nas
Guerras Púnicas. Fotos

Shutterstock

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conclamava que os flhos e netos da
escravidão nas Américas e no Caribe
deveriam, agora, retornar ao local onde
suas próprias histórias (e a da humani-
dade como um todo) tveram início. Em
1920, ele havia anunciado, com um certo
tom misterioso: “olhem para a África,
onde um rei negro será coroado, anun-
ciando que o dia da libertação estará
próximo”. Há quem pense que Garvey
estava fazendo uma metáfora sobre o
empoderamento do povo negro e o fm
do colonialismo, até porque ele próprio
nunca se assumiu publicamente como
um seguidor do rastafári.
Mas, dez anos mais tarde, suas pala-
vras começaram a soar como uma pro-
fecia de verdade: Ras Tafari, um negro
como eles, chegou ao tono da Etópia
em abril de 1930. Não era, é claro, o pri-
meiro imperador negro em Adis Abeba,
mas era o primeiro a assumir o poder
após a “profecia”. A 13 mil quilômetos
dali, em Kingston, muitos jamaicanos
que se lembravam bem das palavras de
Garvey se convenceram de que a hora
havia chegado. A coroação era um sinal
defnitvo de que o prometdo dia da
libertação – da miséria, da opressão,
das humilhações – estava no horizonte.
Hailé Selassié havia chegado ao
tono com um títlo pomposo: passou
a ser Sua Majestade Imperial, o Leão
Conquistador da Tribo de Judá, o Rei
dos Reis. Agora, talvez estvesse pronto
para ser chamado também de Deus.

Dinasta bíblica
A religião rastafári buscava conectar os
negros com as suas raízes, que também
são as raízes da humanidade. Mas essa
conexão não se restingia às tibos que
se formaram no contnente e partram
em caminhada por todo o planeta há
200 mil anos. Também visava reconec-
tar os negros às civilizações africanas
do passado – e o reino etíope foi um
dos mais importantes e longevos.
Os devotos de Hailé Selassié viam
nele um descendente direto da árvore
genealógica da Bíblia: Ras Tafari seria
o 225º descendente do rei Menelik 1o, o
monarca que teria inaugurado a dinasta

Cartago
Colônia fenícia na
região da Tunísia,
obteve autonomia
e se tornou uma
das civilizaÁões
importantes do
mundo greco-
romano. Embora
situada na África, sua
cultura estava ligada
ao Oriente Médio –
os fenícios vinham
do atual Líbano.
Cartago controlou
as rotas comerciais
do Mediterrâneo
e manteve longa
rivalidade com
Roma. Os romanos
destruíram a
cidade nas Guerras
Púnicas e passaram
a dominar seus
territórios.

A.C. Até 146 A.C.

área
atual
Tunísia,
parTes de
argélia,
Marrocos,
líbia.
europa
parTes de
espanha,
porTugal,
França e
iTália.

os reinos aFricanos

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