Dossiê Superinteressante - Edição 398-A (2019-01)

(Antfer) #1
Desafios Da liberDaDe 33

Monarcas e investdores bancaram as


viagens de geógrafos para o interior


profndo da África no século 19.


Mais do que conhecimento, buscavam


calcular as riquezas do contnente -


para então dividi-lo ente as grandes


potências da Europa.


O explorador inglês
John Hanning Speke
tnha 30 anos quando
embarcou na grande
aventra de sua vida:
viajar aos confins da
África para encontar
a nascente do Nilo.
Havia séculos que os europeus escutavam
e liam rumores sobre a existência de “grandes
lagos” no interior do contnente: africanos,
obviamente, e árabes, que tafcavam pessoas
escravizadas da região, já haviam mencionado
e mapeado grandes volumes de água. Mas
nenhum europeu os havia visto.
Decidido a mudar isso, Speke fez as malas,
juntou-se a outo explorador mais famoso, o
geógrafo militar Richard Burton, e os dois
iniciaram a jornada na metade de 1857, com
uma comitva de serviçais e guias experi-
mentados na região. Por vezes a pé, em outas
tantas em lombo de jumento ou remando
em canoas, os britânicos partram da região
da atal Tanzânia, na costa leste, e seguiram
sempre em frente, rumo ao cento da África.

Eles se tornariam os primeiros europeus a
alcançar o lago Tanganica, o mais extenso
do mundo, mas a viagem foi tão cheia de
imprevistos que os dois estavam doentes
quando chegaram lá.
Burton, afetado por algo que eles desco-
nheciam, passou dias parcialmente paralisado
e precisava ser carregado em uma maca por
seis escravos durante o tajeto – oito, nos
techos mais difíceis. Ele, pelo menos, podia
enxergar onde haviam chegado. Speke não
teve a mesma sorte. Já andava meio surdo
após tentar trar um besouro de seu ouvi-
do com um canivete, perfrando o tímpano
no processo, e quando pisou às margens do
Tanganica também não estava bem em outo
de seus sentdos: a visão. Com os olhos in-
famados, só pôde lamentar: “o lindo lago foi
visto em toda a sua glória por todo mundo,
menos eu”, registou em seus diários.
O Tanganica, descobririam mais tarde, não
era a verdadeira nascente do Nilo – apesar
de impressionante pela sua extensão e de ser
próximo ao rio, ele não tem qualquer ligação
com o curso mais longo da África. Esse ponto

texto Maurício Brum

Imagens Wikimedia Commons

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