Dossiê Superinteressante - Edição 398-A (2019-01)

(Antfer) #1

Guerras,


ditaduras e fome


Entenda por que, mesmo tendo recursos


natrais valiosíssimos, a África


contnua pobre – e a luta dos países


para deixar esse passado para tás.


texto Carol Castro

Em janeiro de 1960,
Harold Macmillan,
primeiro-ministo da
Inglaterra, declarou:
não havia mais como
evitar a independência
dos países africanos.
“O vento da mudança
está soprando pelo contnente e, quer queira-
mos ou não, esse crescimento da consciência
nacional é um fato polítco”, disse ao declarar
a retrada de seu país do contnente africano.
Ele tnha razão.
Só nos tês anos anteriores, oito países
haviam se livrado do domínio europeu – a
maioria era colônia da França. Após a on-
da nacionalista do pós-guerra, os africanos
viviam a esperança de, enfim, traçarem

sozinhos seus caminhos. Um a um, após o
anúncio de Macmillan, os países anunciavam
sua independência.
A economia e o momento histórico alimen-
taram o otmismo. Os preços de produtos ex-
portados pelo contnente, como café, cacau e
minérios, andavam em alta. A maior parte das
moedas africanas estava valorizada e poucas
nações possuíam dívidas externas altas. E ain-
da havia tesouros a serem explorados – ouro,
cobre, bauxita, gás, petóleo e urânio. Tudo isso
em meio à Guerra Fria. “A posição que cada
novo Estado independente adotasse em suas
relações com o Ocidente ou com o Oriente
era vista como um assunto de importância
crucial”, escreve Martn Meredith no livro O
Destno da África. “A África foi considerada
um prêmio valioso demais para se perder”,

Em 1960, a República Democrática
do Congo conquistou a indepen-
dência da Bélgica. Eram tempos de
Guerra Fria, e o primeiro-ministro
Patrice Lumumba, simpatizante
do comunismo, chamou a União
Soviética para dar jeito nos confitos
étnicos do país. Aos 29 anos, o
coronel Mobutu era contrário ao
comunismo e ganhou a confança

dos EUA para derrubar Lumumba.
Tornou-se presidente em 1965 e,
com a proposta de criar um “novo
Congo”, implantou um sistema polí-
tico de um só partido e rebatizou as
regiões do país com nomes étnicos.
O Congo virou Zaire. Por um tempo,
deu certo. Só que ele decidiu tomar
posse das riquezas do país. Numa
jogada nacionalista, apreendeu

quase 2 mil empresas estrangeiras e
distribuiu entre amigos e familiares.
Corrupto, Mobutu retirava dos cofres
a quantia que bem entendesse.
Enquanto isso, faltava comida,
hospitais e escolas. Decreto atrás de
decreto, manteve-se no poder até
1997, quando Laurent Kabila o tirou
do poder. Morreu meses depois, de
câncer, no exílio em Marrocos.

Foto

Getty Images

Desafios Da liberDaDe 49

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