Dossiê Superinteressante - Edição 398-A (2019-01)

(Antfer) #1
o salário dos deputados.
Cabiam a essa pequena elite to-
dos os rumos do país. Eles escolhiam
quem receberia os melhores empre-
gos, bolsas de estdos ou a localização
das fábricas. Os polítcos acumula-
ram milhões com o roubo de verbas
públicas. Um estdo feito em 1964
indicou que, em 14 países africanos, a
importação de bebidas alcoólicas ha-
via sido seis vezes maior do que a de
fertlizantes. Perfmes e cosmétcos
chegavam mais do que maquinários.
E o número de carros importados foi
cinco vezes maior do que o de equi-
pamentos agrícolas.
Ente guerras e corrupção, quase
toda a África entrou em decadên-
cia nos anos 1980 – sitação ainda
pior em países aliados a potências
comunistas que, àquela altura, já
não investiam em lugar nenhum.
O contnente também sofreu com o
preço do petóleo, que aumentou os
custos da produção agrícola. E a co-
mida escassa não dava mais conta de
alimentar a população, que não parava
de crescer – de 1960 a 1990, o número
de africanos passou de 200 milhões
para 450 milhões. “Durante os anos
1960 e 1970, a África foi a única re-
gião do mundo em que a produção
de alimentos per capita diminuiu”,
conta Meredith.

Um novo colonialismo
A solução foi pegar dinheiro em-
prestado com o Banco Mundial e o
Fundo Monetário Internacional. No
começo dos anos 1990, a dívida ha-
via aumentado 30 vezes em apenas
30 anos. “Nenhum dos problemas
da África independente foi mais de-
terminante do que a instauração do
neocolonialismo, iniciado com a crise
das dívidas externas”, conta Barbosa.
“Com o enfraquecimento dos Esta-
dos, em muitos países o caos social
foi se impondo, levando o contnente
a extensas guerras civis, aumento da
miséria, difsão da aids, genocídios
étnicos etc.”, diz. Nesse período, os
confitos étnicos e religiosos mataram
milhares de pessoas nas ex-colônias
da Inglaterra.

RobeRt Mugabe
Zimbábue, 1987-2017

Lutou pela independência
de Zimbábue, uma das
mais tardias da África,
em 1980. Foi nomeado
presidente em 1987. Frau-
de após fraude eleitoral,
conseguiu se manter no
poder. Um de seus maiores
legados foi uma reforma
agrária frustrada. Passou a
tirar terras de brancos para

entregar aos negros. Mas
acabou distribuindo-as a
familiares e membros do
seu partido. O Zimbábue
deixou de ser um grande
exportador de cereais,
e a fome aumentou. Re-
nunciou em 2017, quando
demitiu o vice-presidente
Emmerson Mnangagwa,
em uma tentativa de
entregar o cargo à esposa
que, a seguir, assumiria a
presidência. Os militares
prenderam Mugabe em
prisão domiciliar. Em 37
anos de poder, Mugabe
deixou seus cidadãos
15% mais pobres.

José eduaRdo
dos santos
Angola, 1979-2017

Aos 16 anos, entrou para
o Movimento Popular
de LibertaÁão de Angola
(MPLA), que lutava pela
independência de Portugal.
Entre 1961 e 1970 fcou
exilado em países vizinhos.
Após o retorno, viu o país
ganhar independência em
1975 e virou ministro das

RelaÁões Exteriores. Só
chegou ao poder por acaso:
com a morte do líder Agos-
tinho Neto. Ao longo de 27
anos, o país viveu em meio
a uma guerra civil entre o
MPLA e outros dois grupos,
que só terminaria em 2002.
Nos anos 1990, abriu o
país para a democracia e
economia de livre mercado.
Foi eleito e transformou a
Angola no segundo maior
exportador de petróleo do
continente, mas a popula-
Áão vive na miséria. Santos
é acusado de ter uma
fortuna bilionária oculta.
Aposentou-se em 2017.

guerras, corrupção e


aumento do preço do


petróleo minaram a economia


de praticamente todo o


continente nos anos 1980.


Desafios Da liberDaDe 51

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