Dossiê Superinteressante - Edição 398-A (2019-01)

(Antfer) #1
a dominaÇÃo europeia
na África não foi apenas
militar, política e
econômica. Ela também
tentou apagar a história
do continente. Não
sobrava nem o Antigo
Egito, considerado por
anos como um país fora
das fronteiras africanas, o
que levava a classifcar os
os avanÁos tecnológicos
do tempo dos faraós
como “orientais” – e
não como africanos.
Cheikh Anta Diop, um
antropólogo nascido
no Senegal em 1923,
ajudou a virar esse jogo.
Para resolver a questão
egípcia, ele criou em
1966 o laboratório de
radiocarbono (método
de dataÁão radiométrica
que utiliza o carbono
como base para estimar
a idade de materiais) na

na dÉcada de 1970 , o matemático
brasileiro Ubiratan DíAmbrósio se
deparou com uma pergunta que iria
persegui-lo pelo resto da vida: por
que seus alunos africanos se viam
obrigados a aprender matemática
seguindo moldes que não tinham
nada a ver com a realidade deles?
DíAmbrósio trabalhava como professor
universitário em Mali, no sudeste do
Saara, quando comeÁou a defender
uma nova forma de ensino adaptada
às particularidades de cada cultura.
Ele argumentava, por exemplo, que
os malinenses foram capazes de
construir grandes mesquitas com
métodos próprios, há mais de 500
anos, mas essa sabedoria não era
considerada. O brasileiro, então,
criou a etnomatemática, que estuda
as diferentes quantidades, medidas
e padrões geométricos dos povos
por meio de aspectos históricos e
sociológicos. Sua abordagem serve,
por exemplo, para compreender a
lógica arquitetônica das muralhas
de pedra no Zimbábue ou os
métodos de deduÁão probabilística
dos jogos de apostas na Nigéria.
Em 2001, ele venceu o prêmio da
Comissão Internacional de História
da Matemática. Quatro anos
depois, recebeu a medalha Felix
Klein, da Comissão Internacional
de InstruÁão Matemática, por suas
contribuiÁões educacionais. Hoje, é
professor emérito da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp).

Universidade de Dakar,
capital do país, que hoje
carrega seu nome. Ali,
fez testes na melanina
muito bem preservada de
múmias provenientes de
escavaÁões em Marietta,
no Egito. As análises de
Diop indicaram que as
múmias eram de negros
por causa do nível de
melanina inexistente nas
raÁas de pele branca. Isso
colocou de vez os egípcios
antigos entre os africanos.
Suas teses vinham desde
12 anos antes, quando
publicou seu primeiro livro
Nações Negras e Cultura,
no qual discute a língua,
cultura e lógica africanas,
mostrando como o
continente abrigava um
povo intelectualmente
dotado. Ele estudou
também o início das
civilizaÁões na África.

África do século 21 63

Uma matemática


antirracista


DescolonizanDo a


história africana


62-65_Cap3_CienciasPilulas.indd 63 06/12/18 16:43


0
0
Free download pdf