Dossiê Superinteressante - Edição 398-A (2019-01)

(Antfer) #1
um sabonete pode ser
a nova arma contra a
doenÁa, que só em 2016
atingiu 216 milhões de
pessoas, segundo o último
relatório da OMS. Destas,
445 mil morreram – 91%
delas na África. A ideia é
dos pesquisadores Moctar
Dembélé, de Burkina Faso,
e Gérard Niyondiko, de
Burundi, que criaram o

“sabão Faso”, depois de
perceber que os repelentes
já não são tão efcientes
contra os mosquitos
vetores da doenÁa.
A invenÁão se baseia em
microcápsulas contendo
repelentes naturais do
mosquito, composto de
cravo-africano, manteiga
de karité e capim-limão.
A pessoa se ensaboa com
o produto e, de lambuja,
fca imune ao mosquito
transmissor. A meta é
fazer com que o sabão seja
efetivo até 6 horas depois
de aplicado. Além de efcaz,
o sabonete, que combina
higiene e prevenÁão, é mui-
to mais barato e menos pe-
rigoso do que repelentes e
venenos. Dembélé e Niyon-
diko trabalham no Centro
Nacional de Pesquisa con-
tra a Malária, em Burkina
Faso. Eles já angariaram
fundos de fontes interna-
cionais e esperam salvar
ao menos 100 mil vidas.

a esquistossomose É uma doenÁa tão
feia quanto o nome. Afeta o intestino
ou o canal urinário, causa diarreia,
anemia, inchaÁo do fígado e do baÁo.
A doenÁa consiste em pequenos
vermes que se instalam no corpo,
e seu principal vetor é o caramujo,
abundante em regiões quentes, úmidas
e onde falta higiene. Um problema
principalmente para a África, onde
estão quase 92% dos casos – e que
foi resolvido com um fruto local.
A situaÁão era pior antes de Aklilu
Lemma, cientista da Etiópia que
bolou a soluÁão usada ainda
hoje no controle da doenÁa.
Em 1964, observando os rios em que
as lavadeiras de seu país limpavam
as roupas, ele descobriu que os
caramujos morriam naquelas águas.
Depois de pesquisas nos laboratórios
da Universidade de Adis Abeba,
capital do país, descobriu que o
responsável era uma toxina encontrada
no endod, um arbusto nativo.
Foi então que comeÁou a fazer
experimentos em Adwa, cidade no
norte etíope, com 17 mil habitantes.
Depois de cinco anos, os índices da
doenÁa caíram de 63% para 34% – e nas
crianÁas, em que a esquistossomose
afetava metade, passou para 7%. Tudo
com o fruto da planta sendo usado
como sabão, para prevenÁão, e na
água, para exterminar os vetores.
Lemma ganhou prêmios e hoje dá
nome ao Instituto de Patobiologia
da Universidade de Adis Abeba. Sua
descoberta, muito mais barata e menos
danosa do que os pesticidas usados
até então, ainda é a principal forma de
se combater a doenÁa do caramujo.

Um banho


contra a


malária


Uma pl anta


contra vermes


Foto

Wikimedia Commons

África do século 21 65

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