Público - 01.11.2019

(Ron) #1
6 • Público • Sexta-feira, 1 de Novembro de 2019

ESPAÇO PÚBLICO


As cartas destinadas a esta secção
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CARTAS AO DIRECTOR


O estafante aeroporto


São quase inÆnitas as vezes que se
conÆrma que o aeroporto do
Montijo provoca problemas de
ruído, mobilidade e protecção da
avifauna. E não há nada a fazer
contra a teimosia deste
primeiro-ministro que parece
estar de amores com os franceses
da ANA. Não há dúvida de que isto
tem de dar uma volta!
Manuel Almeida, Lisboa

“Agressões a
professores devem
ser crime”

No seguimento da análise do seu
editorial, intitulado “Agressões a
professores devem ser crime” —
texto em que estou de acordo em
quase tudo o que referiu o caro
director —, não resisto, porém, a
voltar ao tema. O Manuel Carvalho
não se dá conta que, muitas vezes,

basta um professor ou professora
dar uma ligeira” bofetada
pedagógica” ou um toque mais
percutor para que a comunicação
social, de forma sensacionalista, e
ávida de temas que “mexam”, diga
que “o professor agrediu um
aluno de forma violenta”. A
maioria das vezes essa notícia não
corresponde, de todo, à realidade
do que efectivamente se passou. A
indisciplina nas escolas continua e
é acentuada, caro director, e os
professores vêem-se em palpos de
aranha para “segurarem” os
alunos. A questão não se coloca
em o professor ter ou não ter
“condições emocionais” — imagine
professores com mais de 60 anos
à frente de turmas com um
considerável número de alunos
selvagens... O quotidiano, em
muitas escolas deste país, é uma
verdadeira batalha em que o
aprendente é mal-educado,
intimida, provoca e goza, quase

sempre impunemente. Acredite,
caro director, há muito professor
de baixa médica neste país porque
o docente não consegue, nesta
escola democrática de massas,
exercer a autoridade sobre os
alunos arruaceiros porque o
ministério não quer que o
docente, efectivamente, a exerça.
Agora imagine a balbúrdia nas
escolas com a chamada “escola de
inclusão”, por bem que o
objectivo dessa escola seja
meritório e pro bono.
António Cândido Miguéis, Vila Real

Operação Marquês


Desde há muitos anos pensava que
o grande ídolo deste país e
principalmente da nossa
comunicação social era o Cristiano
Ronaldo; afinal, enganei-me
redondamente, pois o “foco”
muito especialmente das nossas
TV (lamento que o meu diário

desde o número um — PÚBLICO —
também lhe dê importância a
mais) é o nosso
ex-primeiro-ministro de nome
José Sócrates Pinto de Sousa.
Neste mesmo simpático espaço,
há semanas, afirmei que, com o
afastamento de Joana Marques
Vidal e Carlos Alexandre, feito de
forma obscura, todos os
portugueses teriam que começar a
preparar-se para, via Estado,
liquidar uma indemnização que
aquele arguido vai exigir quando o
seu processo for arquivado, como
suponho que vai ser, pelo juiz dr.
Ivo Rosa e que, obviamente,
seremos nós, contribuintes, a
pagar. Os sorrisos do nosso “ex” à
saída da primeira “audiência” e
entrada para a segunda falam por
si... Cuidado, que vão ser muitos
mais milhões do que aqueles de
que o acusam de ter sido
“beneficiário”...
Manuel Gonçalves, Braga

Se tudo correr como previsto, há mais uma
fusão a acontecer no sector automóvel,
entre a Fiat Chysler Automobiles e a PSA
(Citroën, Peugeot, Opel, Vauxhall e DS), que dará
origem ao quarto maior grupo automóvel do
mundo e à frente dele estará um português —
Carlos Tavares (actual presidente executivo da
PSA). O gestor com as melhores margens da
indústria é visto como o homem mais capaz de
segurar este desafio e esta aliança. (Pág. 27) J.J.M.

Tirando o percalço Alverca (para a Taça de
Portugal), o trabalho de Silas no Sporting
está a dar resultados. No campeonato, o
seu registo é 100% vitorioso, como confirmaram os
três pontos conquistados ontem em Paços de
Ferreira. É um Sporting ainda em construção
(lenta), que esteve melhor na primeira parte do
que na segunda, mas que está a formar uma
identidade de acordo com as ideias do seu
Carlos Tavares Silas treinador. (Pág. 38) J.J.M.

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A ANA não pode ter um “plano B” para o Montijo


H


á 50 anos que o país anda a
discutir qual é a melhor
localização de um aeroporto
para servir Lisboa. Várias
hipóteses foram tidas em conta
até à escolha do binómio Humberto
Delgado-Montijo e todas elas foram
alvo da proverbial hesitação, do
avanço e do recuo que caracteriza
obras de infra-estrutura de grandes
dimensões em Portugal, como
aconteceu com o TGV ou até com o
Alqueva.
Não há localizações perfeitas, como

vimos pela Ota, por Alcochete ou por
todas as outras. E seguramente que
nunca chegaremos a consenso
quanto à melhor opção. Na verdade,
os aeroportos nunca serão inócuos
para quem mora na proximidade,
para quem se desloca até eles ou para
as populações de aves que nidiÆcam
nas suas imediações. Um aeroporto
como este divide populações e
autarcas, e satisfaz a indústria,
comércio e turismo.
Desde o anúncio da construção de
um novo aeroporto na base aérea do
Montijo que o Governo a
condicionou à aprovação de um
estudo de impacte ambiental da
Agência Portuguesa do Ambiente
(APA). António Costa deixou-o claro
na apresentação do projecto: não
haveria “plano B” para o aeroporto
complementar de Lisboa caso a sua

localização fosse inviabilizada por
um estudo de impacte ambiental.
A avaliação da APA tenta o
equilíbrio possível entre benefícios e
custos, na tensa relação entre a
necessidade de garantir capacidade
de crescimento aeroportuário e os
danos que a infra-estrutura coloca a
vários níveis, nomeadamente do
ponto de vista ambiental. A inibição
de voos nocturnos, a criação de uma
zona para a nidiÆcação de aves ou o
acrescento de mais dois navios (aos
dez que já estão previstos) para que
a Transtejo melhore a oferta de
transporte de passageiros são
medidas mínimas de bom senso, às
quais até poderia ser adicionada a
necessidade de dotar o Montijo com
uma ligação metropolitana/
ferroviária, como o PCP tem
reclamado.

Mas, apesar destas naturais
dúvidas ou divergências, a ANA,
que tem a concessão dos
aeroportos nacionais, não tem de
reagir com surpresa às propostas da
APA para reduzir os dados de um
aeroporto no Montijo. Medidas
como as propostas, no valor de 48
milhões de euros, são quase
ridículas quando comparadas com
os muitos milhões de investimento
previsto. Compete à ANA respeitar
as exigências do Estado e não se
esquecer que o processo, como
acontece em qualquer país do
Primeiro Mundo, sempre esteve
dependente de uma avaliação de
impacte ambiental. A ANA não
pode ter um “plano B” para o
Montijo.

Amílcar Correia
Editorial
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