Freud e seus Fantasmas - Rafael Rocha Daud

(Antfer) #1

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essencial da técnica teve de ser criado de uma vez,
consistindo em que se deixasse o paciente falar sobre
aquilo que o aflige e quais os sentidos que ele mesmo
dá para aquilo. Se a técnica é tão simples, e ao mesmo
tempo não é possível espelhar-se na natureza, nem
nos livros, há apenas uma maneira de se formar um
analista: que ele mesmo se submeta a uma análise,
e a partir dessa experiência descubra em si como
identificar em que momento um charuto significa
apenas um charuto, e em que momento significa
outra coisa.


Nisto, chegamos ao primeiro paradoxo da
psicanálise, talvez o mais importante deles. Se é preciso
um psicanalista para formar outro psicanalista, quem
formou o primeiro psicanalista? Em outras palavras,
quem conduziu a análise de Freud?


Esta pergunta é fundamental para o nosso
tema, porque é aquilo que motivou a existência de
A Interpretação dos Sonhos. A resposta tem duas
partes: quem conduziu a análise de Freud, e como.
A Interpretação dos Sonhos é o como. A obra é o
resultado da análise de Freud, como veremos.


Mas, quem a conduziu? Existem duas respostas
para essa pergunta, ambas concorrentes e verdadeiras.
A primeira diz: quem conduziu a análise foi o próprio
Freud. Foi, dessa maneira, uma autoanálise, a única
da sua espécie. A segunda resposta diz: foi Wilhem
Fliess, amigo de Freud.


Vamos explicar as duas respostas. Quando
Freud iniciou sua autoanálise, não sabia o que iria
encontrar. O não-sabido do inconsciente não era
apenas não-sabido pelo paciente, Freud: era não-
sabido absolutamente, ninguém o sabia. E, mais
radicalmente ainda: ninguém sabia que não sabia,

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