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Sigmund Schlomo Freud
ninguém sabia que haveria, ali, algo a se saber. Isto
é da maior importância: se hoje tento empreender
uma autoanálise, só posso fracassar, porque só terei
ouvidos para aquilo que já sei: o complexo de Édipo, a
compulsão à repetição, a ambiguidade de sentimentos
em relação às pessoas de quem gosto, enfim, tudo
aquilo que a teoria me ensinou. Mas, se eu já sei o
que vou encontrar, então esse não é o inconsciente,
não é o não-sabido! Portanto, se quiser ir atrás do
não-sabido, preciso ir mais longe. E para ir mais
longe, não adianta estudar, saber mais. Saber mais
apenas empurraria o não-sabido ainda mais adiante.
Seria como tentar alcançar o horizonte: quanto mais
caminhamos, mais ele se afasta de nós.
Mas para Freud isso era possível, pois nenhuma
análise jamais havia sido empreendida. Tudo era não-
sabido, Freud não sabia o que encontraria no seu
inconsciente. A investigação de Freud, caminhando
sobre terreno virgem, pôde se comportar como se
o horizonte fosse exatamente o lugar em que ele
estava. A cada descoberta sua, o campo do não-
sabido, denominado o campo do inconsciente, era
povoado, todos aqueles pensamentos, do qual nada
se sabia, que chamamos o inconsciente, aos poucos
iam constituindo essa região tenebrosa chamada o
inconsciente. Assim, podemos afirmar que Freud não
apenas descobriu o inconsciente — de certa forma,
o inventou. Inventou-o com aquilo de sua própria
mente que encontrou ali.
Como foi possível que ele se aventurasse de
maneira tão corajosa? Aqueles que já fizeram uma
análise sabem que, às vezes, esses pensamentos que
pensamos sem saber que os pensamos, são bem
obscuros e têm bons motivos de permanecerem
inconscientes: são desagradáveis, terríveis! É certo