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que nem sempre o são, mas, vezes suficientes para
que não se possa se aventurar numa análise sem a
coragem de enfrentar alguns dragões. Como Freud
foi capaz de fazer isso?
É aqui que se introduz a segunda parte daquela
resposta. Ele conseguiu fazer isso porque tinha
outra pessoa, Wilhem Fliess, um amigo que era
por ele tremendamente admirado. Assim, o medo
que Freud podia ter daquilo que seu inconsciente
revelaria, durante sua autoanálise, não era tão
grande quanto o medo de decepcionar seu amigo
Fliess. A admiração por ele o impulsionava, e a
cada pensamento desagradável ou vergonhoso com
que Freud se depara, dirige-se a Fliess para relatá-
lo, e ao fazê-lo, tal vergonha se vê compensada
pelo orgulho de realizar o feito extraordinário de
descobrir aquele pensamento inconsciente. Assim,
é na correspondência e nas conversas pessoais que
manteve com Fliess, durante esse período, que Freud
encontrou o ponto de apoio intelectual e emocional
necessário para continuar o trabalho de elaboração e
desvendamento desses pensamentos que se ocultavam
de sua consciência.
Quando vamos a um analista, hoje, podemos relatar
nossos sonhos, mas mais do que isso relatamos nosso
dia a dia, nossos tropeços e frustrações, ideações,
expectativas, nossa interpretação do mundo que
nos rodeia, que chamamos de realidade. Freud não
poderia fazer todas essas coisas, pois nenhuma delas
escaparia à sua atenção consciente. Quando hoje digo
para meu analista: passei a semana inteira pensando
em tal coisa, e ele responde: mas como você pôde se
esquecer de X, isso me faz reavaliar aquilo que me
ocupou a mente a semana inteira, faz com que eu olhe
aquilo sob outra luz, qual seja, o fato de que passei a