Freud e seus Fantasmas - Rafael Rocha Daud

(Antfer) #1

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Qual é, para nós, a importância dos sonhos?
Nem toda análise passa por uma análise dos sonhos.
Nem todo mundo parece lembrar-se dos sonhos
que tem, nem se sente à vontade para falar deles.
Pode uma análise dar-se de outra forma? A resposta
é afirmativa. Existem muitas outras produções
inconscientes que podem ser analisadas, e Freud
voltou-se a elas em momentos posteriores de sua
obra. São os atos falhos, esquecimentos cotidianos,
trocas de nomes ou de palavras, que normalmente
explicamos com alguma justificativa trivial. Tais
“distrações” identificadas por Freud, especialmente
no livro Psicopatologia da Vida Cotidiana, são porta-
vozes do inconsciente. Elas denunciavam que havia
um pensamento, ocorrendo ao abrigo do pensamento
consciente, e que possuíam lógicas e mecanismos
próprios, que depois de interpretadas, podiam ser
reconhecidas como pensamentos próprios à pessoa
esquecida. Assim, por exemplo, quando esquecemos
do aniversário de alguém, depois nos damos conta
de que já não queríamos a pessoa assim tão bem;
ou estamos ressentidos com ela por algum motivo,
ou queríamos evitar a obrigação de comparecer a
uma festa ou oferecer um presente. E o inconsciente,
introduzindo o esquecimento da data, permite que
façamos isso de maneira mais ou menos impune.
Existem muitas formações do inconsciente das quais
uma análise pode fazer usos, não apenas sonhos.


Entretanto, os sonhos permaneceram, para Freud
e para todos os psicanalistas que vieram depois, uma


“Existem muitas formações do


inconsciente — como atos falhos,


esquecimentos — das quais uma análise


pode fazer uso, não apenas sonhos.”

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