Freud e seus Fantasmas - Rafael Rocha Daud

(Antfer) #1

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E


para que teria o sonho tanto trabalho? Por que
faria manobras tão sofisticadas, trabalhosas?
Por que não sonhamos simplesmente com
aquilo que queremos sonhar?

A formação de um sonho


Imagine o seguinte: uma criança, numa expedição
familiar (esta é uma das histórias que Freud conta em
seu livro, trata-se de um sobrinho seu), avista uma
cabana no topo de um morro. O grupo deseja atingir o
topo do morro a fim de visitar essa cabana e como ela
fica visível ao longo de todo o caminho, esse desejo é
alimentado constantemente. Após certo tempo, porém,
todos percebem que o caminho que falta ainda é longo
e já começa a escurecer. Por esse motivo, são obrigados
a abandonar a meta original e retornar para casa, sem
poderem entrar na cabana. Na manhã seguinte, a criança
anuncia que teve um sonho: estavam dentro da cabana,
ela pode descrever seu interior, o que fizeram lá, etc. O
que aconteceu?


A excitação do dia havia sido intensa. A criança havia
alimentado o desejo de visitar a cabana e provavelmente
teria tido dificuldades para dormir, tamanha a ansiedade
por realizar esse desejo. O sonho, então, exerce sua função:
para permitir que a criança durma, realiza esse desejo,
de maneira que ela possa conciliá-lo com a necessidade
de sono. O sonho, assim, não é apenas a representação
do desejo, mas sua realização própria. No dia seguinte,
a criança está satisfeita e embora saiba que não visitou
realmente a cabana, sente-se contente, como se o tivesse
feito.


Os sonhos dos adultos costumam ser mais complicados.
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