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Sigmund Schlomo Freud
razão, mas não podiam ignorá-la.
Com a psicanálise, e em grande parte com a
interpretação dos sonhos, Freud havia iniciado um
movimento tão revolucionário quanto as descobertas
de Darwin e Copérnico. De fato, tratava-se do golpe
definitivo que sofria a autoestima humana: Copérnico
havia mostrado que a Terra não era o centro do
sistema solar; Darwin, que a humanidade não havia
sido criada à imagem e semelhança de Deus. Com
a psicanálise, e em especial com a interpretação dos
sonhos, Freud desfere o golpe final: a mente humana
não está no controle; existem pensamentos dos quais
não temos consciência, passa-se em nós uma série
de raciocínios dotados de uma lógica própria, que
pensam, ainda que não saibamos que pensam, que
motivam muitas das nossas ações sem que tenhamos
qualquer controle sobre isso.
Controle, aí, tem dois sentidos: o daquilo que
podemos modificar, porque temos poder sobre ele,
mas também o que podemos vigiar. Esse campo da
mente sobre o qual não temos controle, Freud o
chamou de inconsciente. Com esse terceiro golpe, a
humanidade estava novamente só, lançada sem rede
de proteção a um campo perigoso de...
De quê, exatamente? Que lugar novo é esse, a que
somos lançados, quando não somos mais o centro?
Por que seria tão importante assim que a humanidade
fosse o centro do universo, o que Copérnico refutou,
o centro da adoração divina, o que Darwin refutou, e,
finalmente o centro de sua própria autoconsideração,
o que Freud refutou? Por que era tão importante ser
o centro?
Talvez porque, ao nascer somos o centro da atenção