Freud e seus Fantasmas - Rafael Rocha Daud

(Antfer) #1

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reud constatou, mais ou menos por essa
época e examinando os mesmos fenômenos,
ainda outra razão pela qual alguns sonhos
se expressavam não pela realização de um
desejo do Eu, mas de uma maneira que
parecia francamente contrastante com esse desejo,
como se esses sonhos contrariassem os desejos do Eu
em vez de expressá-los.


Freud nunca recuou de sua hipótese primeira, a
de que os sonhos eram a realização de um desejo, de
maneira que suas novas observações eram bastante
inquietantes. Num certo número de ocasiões, os
desejos que esses sonhos realizavam não podiam ser
atribuídos ao Eu do sonhador de maneira alguma. Do
que se tratava?


Neste ponto, Freud resgatou uma observação que o
havia interessado muito tempo antes. A observação do
fenômeno da autoconsciência.


A voz da consciência
Parecia que alguns doentes sofriam de um fenômeno
relativamente incomum, por meio do qual podiam
ouvir, como vozes exteriores, ordens ou comentários
dirigidos a si. Tais ordens viriam na forma “faça isso,
senão algo ruim acontecerá a você ou a alguém que
você ama”. Tais comentários vinham na forma: “veja,
agora ele vai fazer isso, vai caminhar naquela direção,
vai abrir aquela porta; agora ele vai dizer isso ou aquilo”.
O doente ouvia tais comentários e ordens dirigidos a si
mesmo como vindos de algum estranho. Ainda que os
pudesse acompanhar com um movimento de lábios, isto
não era realmente necessário: sua alucinação auditiva

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