Freud e seus Fantasmas - Rafael Rocha Daud

(Antfer) #1

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Sigmund Schlomo Freud

podia prescindir de qualquer apoio material.

Tais manifestações estranhas, exageradas e
patológicas, Freud reconheceu rapidamente como
sendo a ampliação de um fenômeno muito comum,
existente também nas pessoas saudáveis. Tal era o
fenômeno da autoconsciência. Isso é muito comum
na psicanálise: aspectos normais da psique humana,
presentes em pessoas saudáveis, quando exagerados
ou perturbados por alguma unilateralidade acabam
transformando-se num fenômeno patológico, havendo
entre um doente e uma pessoa saudável menos uma
diferença qualitativa, como se poderia esperar, e mais
uma diferença quantitativa. No caso presente, o que
era exagerado é o que chamamos, não sem motivo,
de voz da consciência: a ideia de que há, em cada um
de nós, uma instância superior, ponderada e cheia
de autoridade, embora às vezes também algo cruel,
demasiado exigente e incansável, ordenando que nos
comportemos de determinada maneira, e não de outra,
empurrando-nos um pouco para frente, contra nossa
própria preguiça e indolência, um pouco para baixo,
deprimindo-nos sempre que não parecemos estar à
altura de tais demandas.

Assim, a sensação de culpa que sentimos ao deixar de
realizar algo, ou quando achamos que nosso desempenho
está aquém do que esperávamos de nós mesmos, não
pode ser atribuída simplesmente às exigências externas
que sofremos, como as exigências de nossos pais, de
autoridades a quem nos submetemos voluntariamente,
como chefes, por exemplo, ou mesmo pessoas que
miramos e em quem tentamos nos espelhar. Também
não podemos atribuir tais exigências ao nosso próprio
Eu, pois elas contrastam com esse Eu. Por exemplo,
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