Elle Portugal - Edição 366 (2019-03)

(Antfer) #1
ALAMY/FOTOBANCO.PT (2) - DR (4) - UNSPALSH / LES ANDERSON (1)

Mesmo tendo observado isto (relativamente ao início do


século XX), é precisamente nesta época que começam as


surgir as primeiras tentativas de se associarem cores a um


género. E prepare-se para ser surpreendida, porque nada


tem a ver com o que nos habituámos. Num texto publica-


do na Infant’s and Children Wear Review, em 1916, pode


ler-se: «O que de uma forma generalizada é aceitável é o


rosa para os rapazes e o azul para as raparigas». Chocada?


Então as raparigas usavam azul e os rapazes rosa? Sim. É


precisamente isso. Aliás, como confirma a historiadora de


moda Valerie Steele, na sua Encyclopedia of Clothing and


Fashion (disponível na Amazon), em 1939, este princípio


ainda se mantinha «porque o rosa era um tom claro, va-


riante do vermelho, a cor do deus da guerra, Marte, e por


isso apropriada para os rapazes, enquanto que o facto do


azul ser associado com Vénus e a Madonna faziam com que


fosse uma cor para meninas». A mesma informação sobre


estes significados atribuídos às cores é ainda validada por


Maria João Pereira Neto que diz: «o vermelho foi sempre


um cor muito associada ao poder. E o rosa é uma derivação


do vermelho. E as cores do poder sempre estiveram mais


ligadas aos homens», por outro lado o azul é associada «às


cores sagradas» e como tal, era muito usada nas roupas das


«imagens da Virgem Maria» fazendo com que se tornasse


«numa cor mais feminina, mais suave».


Certamente que a Ministra Damares Alves, assumidamente


católica, ficaria espantada com tudo isto. Afinal, aquilo em que


acredita não está assim tão correto. O azul não é tão masculino


quanto pensa, e o rosa não é tão feminino como imagina.


Ok, então se o rosa não era uma cor que devesse ser usada


por meninas, e o azul por meninos, em que momento da


história existe esta inversão? A resposta é: há bem pouco tempo.


Foi logo após a Segunda Guerra Mundial que o paradigma se


começou a inverter. Nos Estados Unidos da América grande


parte das mulheres que se haviam visto obrigadas a arranjar


trabalho para sustentarem as suas famílias – em trabalhos onde


muitas das vezes o uniforme era azul – regressavam ao lar, e


portanto, era necessário operar uma rutura. Fazer algo que as


deixasse ficar novamente entusiasmadas por regressarem ao


seu velho papel no seio da família. E que melhor forma de o


fazer se não através da moda? Foi então que surgiu o rosa como


A Cor – uma escolha que nada teve a ver com simbologias,


foi mera casualidade.


Claro que esta mudança levou o seu tempo. Mas foi-se


fazendo, numa espécie de tempestade perfeita. Mamie Ei-


ESTILO


Anúncios publicitários

da década de 60.

On wednesdays we wear pink!

Funny Face, 1957.

Giras e Terríveis, 2004.

«O ROSA ERA UM TOM CLARO, VARIANTE DO VERMELHO, A COR


DO DEUS DA GUERRA, E POR ISSO APRORIADA PARA RAPAZES»


VALERIE STEELE
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