não é típica: não teve aquela consciência de estar a viver no corpo
errado desde nova. O seu percurso de vida é de autodescoberta e
de evolução enquanto ser humano. Engenheira de software de
profissão, tem muito presente quando perdeu o seu privilégio
masculino: «Quando comecei a ser lida socialmente enquanto
ulher, deixei de trabalhar porque me deixaram de falar sobre temas
nicos e passaram a falar sobre maquilhagem. Perdi as chefias de
Nas oficinas começaram a tratar-me como burra porque deixei
ber sobre carros e eu até gosto de carros. Em muitas esferas sociais
a ter um tratamento diferente. Comecei a sofrer assédio que era
e não acontecia», lembra Dani. Como é que se consegue lidar
a mudança? «Ao princípio é assustador porque, basicamente,
onsciência de uma coisa que para a mulher cisgénero acontece
mpre. Para mulheres trans é diferente no sentido em que depois
rmos por esta mudança, vivemos uma dupla opressão: o facto de
rans e não sermos consideradas verdadeiramente mulheres e o
facto de sermos lidas como mulheres e sentirmos a opressão de sermos
mulheres», conta a engenheira.
A forma como são percecionadas pelos outros é muito importante
para as mulheres trans, no sentido em que a sua aparência exterior é
o passa-palavra da sua condição de mulher. A imagem pode ser um
problema importante na construção do sentido do ser. «Lembro-me
claramente de ter dito isto: senti-me mulher pela primeira vez que
cheguei à rua e senti uma enorme violência por todo lado. Foi mesmo aí
a constatação de que sou mulher. Eu percebi que era lida como mulher
pela sociedade porque comecei a sentir uma violência que não enfren-
tava, ou que não sentia da mesma forma quando era lida socialmente
como um ser masculino», partilha Dani.
IDENTIDADE FLUIDA
Mas nem tudo tem de ser binário. Héloïse Letissier, cantora conhecida
como Christine and the Queens e que encurtou recentemente o seu
nome/alter ego para Chris foi questionada pela BBC News, em setembro
de 2018, sobre a sua aparência mais masculina. «Sou uma mulher, mas
decidi desconstruir a definição do que é ser uma mulher. Eu, na condição
de jovem mulher, senti-me asfixiada pelos limites impostos à definição
do que é ser mulher. Digo que sou fluida porque acredito que a minha
feminilidade é feita de insinuações masculinas, de dúvidas e hesitação.
Não tenho assim tanta certeza do que é ser mulher», disse.
Também Dani Bento, apesar de fisicamente continuar a identificar-se
com o corpo feminino, admite que já vê «o género como algo que é um
sistema de opção social. O género e o sexo. Não acredito nessas opções
e quero combatê-las. Por isso mesmo, trabalho para desconstruir esse
sistema. O género e o sexo não deviam influenciar em nada a situação
das pessoas», acredita. Falamos do não-binarismo, «que nos vem dizer
que o espectro da identidade é fluido. Fluido significa que não existem
[só] duas opções – homem e mulher – existe um vasto espectro e
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GÉNERO FLUIDO
- Janelle Monáe;
- Amandla
Stenberg;
- Héloïse
Letissier;
- Angel Haze;
- Ruby Rose;
- Tilda Swinton;
- Miley Cyrus;
- JD Samson;
- Grace Jones.
INTERSEXO
17.Hanne
Gaby Odiele;
18.Caroline
Cossey.
n e d p m m
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