Elle Portugal - Edição 366 (2019-03)

(Antfer) #1

empresa que o faz da forma correta, a


Kate cita Helena Morrisseys, chefe do


departamento de investigação pessoal


da Legal&Generals, que tomou a deci-


são de desinvestir em empresas que não


partilhem os mesmos objetivos no que


toca à diversidade. Como um exemplo a


não seguir, ela refere-se a uma campanha


da Virgin onde uma mãe discute com a


filha sobre desporto feminino por causa de


um iPad. «Era um anúncio bonito, mas


numa altura em que se tenta sensibilizar


as pessoas, a Virgin precisava de pensar


sobre quão diversa a sua marca é, no espaço


dedicado ao desporto feminino nos seus


canais e no quanto investe nessa área. As


empresas que fingem subscrever estas


ideias fazem-no por sua conta e risco.»


É esta falsa subscrição do empodera-


mento que nos leva para vários campos:


desde um anúncio da Dove que diz que


sermos mais gordinhas é emancipador, às


apostas de Hollywood em recriar filmes


que foram sucessos e que tinham homens


nos papéis principais como o Caça-Fan-


tasmas ou Wonder Woman. Mas aqui


estamos nós, num mundo onde nos são


apresentados ténis “empoderadores”, a


par com curas para a rosácea e rosé, e onde


comprar o que quisermos (desde que não


sejamos pobres) é sinónimo de poder.


Chamem-me desmancha-prazeres,


mas não vos parece que isto é de muito


mau gosto tendo em conta que os pro-


blemas em que as mulheres podem mais


obviamente ser empoderadas incluem


acesso ao voto, igualdade salarial, igual-


dade parental, direito a interromper a


gravidez, ou acabando com o casamento


forçado, o breast ironing, a mutilação


genital feminina e com a violação como


uma arma de guerra? Aliás não será muito


redutora esta noção de que ter poder sig-


nifica ter a bebida rosa perfeita enquanto


um “pussy-grabber” ocupa a Casa Branca?


Este mundo do falso empoderamento


está saturado, e é preciso destinguir-se o


que é falso do que é verdadeiro. Claro que


eu comprei uma série de crachás a dizer


“feminista”. Foi divertido e engraçado, e


o feminismo não existe sem estas coisas.


Mas neste momento precisamos de menos


poses de empoderamento e de mais ação.


Sam Smether, chefe executivo da


Fawcett Society, diz-me: «Eu não sou


parvo: tudo bem que se divertam com


esta mensagem. Nós vendemos t-shirts


feministas e joias da Tatty Devine que


deixam as pessoas a pensar e que inspiram


comentários espirituosos. No entanto, o


conceito de empoderamento é algo que


usamos apenas por acharmos que há muito


a melhorar». Ele sugere que as mulheres


sigam em frente, que deixem de ser inca-


pazes para se tornarem capazes, para que


depois consigam reconhecer as estruturas


e as barreiras que existem e que fazem com


que se sintam menos poderosas. É sobre


estas barreiras que precisa de se falar: não


é mudando apenas o indivíduo mas sim o


sistema em que ele se encontra.


Como a escritora Naomi Alderman,


autora do livro Poder (que venceu inúme-


ros prémios. À venda na Amazon) disse:


“Os produtos, minhas amigas, são muito


giros. Mas não é o mesmo que trabalhar a


nossa autoconfiança, ou saber que temos


um grupo de amigas com que podemos


contar, ou entender verdadeiramente que


nos sentimos uma merda muitas vezes e


não é por nossa causa, mas pelas forças da


sociedade que fazem com que as mulhe-


res, em particular, se sintam uma mer-


da. Aproveitem estes produtos (porque


não?) Mas façam este trabalho também».


Está tudo dito. HANNAH BETTS


p


«OS PRODUTOS QUE COMPRAMOS SÃO MUITO GIROS MAS


NADA COMO TRABALHAR A AUTOCONFIANÇA».


NAOMI ALDERMAN
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