Folha de São Paulo - 14.11.2019

(C. Jardin) #1

aeee


mercado


A26 Quinta-Feira, 14 De novembroDe2 019


ministroPaulo Guedes (economia) diz que seria positivo parabrasileiros ampliar ascompras de produtoschineses



  • Bernardo Caram,
    RicardoDella Coletta e
    Patrícia Campos Mello


BrasíliaOpresidenteJairBol-
sonaro eoministrodaEcono-
mia,Paulo Guedes, querem es-
treitar asrelações comerciais
comaChina. Guedes afirmou
que está em negociaçãoacri-
açãodeuma áreadelivre-co-
mércio entreosdois países.
Adeclaração do ministro
foidada nestaterça-feira( 13 )
duranteosemináriodoNovo
BancodeDesenvolvimentodo
Brics (sigla paraBrasil,Rússia,
Índia, ChinaeÁfricadoSul),
em Brasília.Acapitalfederal
sediaacúpula dos Brics.
“Estamosconversandocoma
China sobreapossibilidade de
criarmosofreetrade area [área
de livre-comércio]também
comaChina,aomesmotem-
po quefalamos em entrar na
OCDE [Organização paraaCo-
operaçãoeDesenvolvimento
Econômico]”, afirmou Guedes.
Eledisseterouvido dogover-
no chinês que não haveria pro-
blema seoBrasil vendesse ain-
da mais paraopaís asiático.
Eressaltou queeventual mo-
vimento contrário,emque os
brasileirosreduzissemosal-
docomercial,também seria
positivoparaoBrasil.
“Eu não me incomodose, em
uma situação de superávit[do
Brasil hoje]comaChina, nós
nosequilibrarmos aliàfrente,
aumentandoasexportações
em 50 %easimportações do-
brandooumesmo triplicando.
Oque nós queremosémais
integração ainda”, afirmou.
Apesar da declaração, téc-
nicos dogoverno afirmaram
que asconversascomaChina
hoje sãoparaaumentaroflu-
xodecomércioeovalor agre-
gado dasexportações ao país.
Omovimentodeaproxima-
çãoémais um passo dogover-
no parareverteraimagem que
BolsonaroconstruiudaChi-
na nacampanha eleitoral. Em
uma das ocasiões em que cri-
ticouopaísasiático,oentão
candidato dissequea“China
não estácomprando no Bra-
sil, estácomprandooBrasil”.
Em janeirodesteano,uma vi-
agemàChina decongressistas
doPSL, partido do qualBolso-
naro anunciou desfiliação,ge-
rouumarápida crise na sigla e
críticasdeOlavo de Carvalho.
Oescritor chamou de idiota
acomitivaquefoiàChinaco-
nhecerseu sistema decâme-
rasdereconhecimentofacial.


Após assumiraPresidência,
Bolsonaro passouadizer que
ocomércio entreBrasileChi-
napoderiaserampliado.No
mês passado,ele esteveemPe-
quim duranteviagem oficial.
Em encontrobilateralnesta
quartacomodirigentechinês,
Xi Jinping,noPaláciodoIta-
maraty, Bolsonarodisse que o
Brasil quer diversificar asre-
laçõescomerciaiscomopaís.
“A Chinacadavezmaisfaz
parte do futurodoBrasil.Onos-
sogovernovaicadavezmaistra-
tarcomodevidocarinho,res-
peitoeconsideração esseges-
to dogoverno chinês”,disse.
Em pronunciamento, Bolso-
narotambém sereferiuàpro-
messa de Xi de importar produ-
tosbrasileiros de maiorvalor
agregado.Dejaneiroaoutu-
bro, oBrasil exportou US$ 51 , 5
bilhõeseimportou US$ 30 , 077
bilhões da China, seutercei-
ro maior parceirocomercial.
Noanopassado,osaldoco-
mercial entreosdois paísesfi-
coupositivoparaoBrasil em
US$ 29 bilhões.Em 2018 ,mais
de um quartodaexportação
brasileirafoi paraoschineses.
Quase 90 %dototalédepro-
dutos básicos, enquantoos
semimanufaturadosrespon-
dem por 8 %eosmanufatura-
dos, 2 %.Nosentido oposto,

98 %dos produtos queoBra-
silcompradaChina são ma-
nufaturados. Outros 2 %são
de produtos básicos.
Em seu pronunciamento, Xi
disse que BrasileChina sãoos
maiores mercados emergen-
tesdos seusrespectivoshe-
misférioseque as duas nações
partilham interessescomuns.
Apósareunião entreoslí-
deres,foramassinadosatos
oficiaisdecooperação.
Entreeles, há um tratado
sobreatransferênciade pes-
soascondenadas de um país
aooutro; ummemorandode
entendimentoentreautorida-
des de transporte; um proto-
colo sanitário paraexporta-
çãodeperachinesaemelão
brasileiro; um plano de ação
na área de agricultura;memo-
randos de entendimentoso-
bremedicina tradicionalede
cooperação no setor de servi-
ços; umatodeincentivode
investimentos, entreoutros.
Bolsonaroainda agradeceu
ogoverno chinêspor terde-
fendidoasoberaniadaAma-
zônia brasileira. Em agosto, o
presidentedaFrança, Emma-
nuel Macron, chegouapro-
poradiscussãodeumstatus
internacional paraaAmazô-
nia,oquegerouacusações
por partedeBolsonaro.

Areuniãobilateraldurou
cercademeia hora. Xiconvi-
douBolsonaroavoltaràChi-
na.Obrasileirorespondeu que
queriavoltarelevarsua espo-
sa,aprimeira-dama Michelle.

Reunião dos Bricsé


marcada por críticas
ao protecionismo

BrasíliaAscríticasàescalada
do protecionismo nocomér-
cio global deramotomdos
discursos no primeirodia da
11 ªCúpula dos Brics.Noen-
cerramentodofórum empre-
sarialdospaíses do grupo,a
fala mais assertivafoi adeXi
Jinping,quevemcriandota-
rifasaprodutos americanos
comorespostaàstaxas cria-
das pelos EUAabens chineses.
“O crescenteprotecionismo
eameaças no mundo estão
colocando em riscoocomér-
cio eoinvestimentointerna-
cional, levandoàdesacelera-
çãodaeconomia internacio-
nal”,disseXi auma plateia de
empresáriosesobos olhares
dosdemais líderesdo bloco.
Asdeclaraçõesforamem
um momentoemqueogover-
no brasileiroadotauma posi-

çãodealinhamentoaos EUA.
Xi defendeuaqueda de bar-
reirascomerciais entrepaíses
em desenvolvimentoeressal-
touque nãorecuaránadeci-
são de abriraChina ao mundo.
Opresidente daRússia, Vla-
dimirPutin, disse queaecono-
mia global“continuacomple-
xa”edefendeuqueospaísesnão
se abatamcomocrescimen-
to das barreiras aocomércio.
Em linha semelhante,opre-
sidentedaÁfricadoSul, Cyril
Ramaphosa, disse queadesa-
celeração globaleoprotecio-
nismo diminuem oportunida-
des de investimentoegeram
incertezas aocomércio global.
Outropontocomumfoia
mençãoamedidas parame-
lhoraroambientedenegócios
eatrair investimentos.
Oprimeiro-ministrodaÍndia,
NarendraModi, pediuaempre-
sáriosque desembarquem no
país.“A estabilidade políticae
aprevisibilidadeeconômica,
além dasreformas,tornaram
aÍndiamaispróspera”,disse.
Putin citouamelhoradopa-
ís noranking de ambientede
negócios doBancoMundiale
avalorização dos títulosdedí-
vida do país. Eletambém dis-
se estardispostoatrabalhar
emconjuntoemáreasco-
moanuclear, afarmacêutica,

aeronáuticaeemtecnologia
da informação. “Gostaríamos
que outros países olhassem pa-
ra nossos avanços nessas áreas
paraparticiparconosco.”
Xi, ModiePutin deramdes-
taqueainvestimentosem
energiasrenováveis eecono-
miaverde,algoque nãoépri-
oridade dogoverno brasileiro.

Acordo com país


asiático depende


deaval do Mercosul



  • Eduardo Cucolo


sãoPauloUm acordocomer-
cial entreBrasileChinade-
penderádoavaldosoutros
países quefazempartedo
Mercosul, de acordocomes-
pecialistas emcomércio exte-
riorouvidos pelaFolha.Ogo-
verno brasileiro também po-
deria optar por sair do bloco
sul-americano paranegociar
diretamentecom oschineses.
Nessa hipótese, no entan-
to,oBrasil perderia osavan-
çosfeitos emrelaçãoaoutros
blocoseconômicos, ficando
defora,por exemplo,doacor-
do Mercosul-União Europeia.
“Desde 2000 ,oMercosul só
negocia em bloco. Todas as ne-
gociaçõescomerciais hoje em
curso são em bloco”,afirma o
ex-secretário decomércioex-
teriorWelberBarral, sócio da
consultoriaBarralMJorge.
José AugustodeCastro, pre-
sidentedaAEB (Associação de
Comércio ExteriordoBrasil),
afirma queoBrasil nãotem
condições de estabelecer uma
relaçãocomercialtotalmente
livre comumpaíscomoaChi-
na, que, porexemplo,não se-
guetodas asregras internaci-
onaisdecomércio.“Seriasui-
cídio industrialcoletivo.”
RobertoDumas Damas,pro-
fessor do Inspereespecialista
em China, afirma serafavor
de um acordo mais amplodo
blococom os chineses, mes-
mo que issorepresenteper-
das paraaindústria brasilei-
ra em um primeiromomen-
to.Paraele, não dá mais pa-
ra proteger osetorcomtari-
fas, prejudicandotodos os ou-
tros segmentosdaeconomia.
“Souafavorde um acordo
de livre-comércio.Mas écla-
ro que nãovamos abrirtudo
de umavez”,afirma.
Leia mais na pág. A20

Odirigentechinês, Xi Jinping,cumprimentaJair BolsonaroduranteencontroemBrasília nestaquarta-feira(13) Pang Xinglei/Xinhua

Brasil negocia livre-comércio com aChina


5 , 43

68 , 04

28 , 95

42 , 83

14 , 81

Relaçõescomerciaisentre ospaísesdos Brics


PIB, em
US$trilhões
de 2018


Exportação,em
US$bilhõesde 2017


2 , 87

2 , 14

12 , 5

4 , 07

2 , 74

47 , 49

1 , 51

2 , 02

37 , 52

Fonte:BancoMundial

0 , 2

0 , 4

0 , 35

4 , 14

8 , 67

Brasil
1 , 87

Rússia
1 , 66

Índia
2 , 73

China
13 , 61 0 ,^37

África do Sul

4 , 66
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