Folha de São Paulo - 14.11.2019

(C. Jardin) #1

aeee


ilustrada


C6 Quinta-Feira, 14 De novembroDe 2019



  • RodrigoSalem


LosAngeLesChristianBale é
um vira-casaca.Desde 2015 ,o
ganhador do Oscar de melhor
ator por“OVencedor”, de 2010 ,
estava comprometidoaprota-
gonizarofilme sobreavida de
EnzoFerrari,ofundador da
montadora decarros de luxo.
Elecomeçouaaprender o
dialetodeModena, utilizado
porFerrari quando estavaao
lado deconcorrentes italia-
nos, bebeuolambruscopre-
ferido dodonodaescuderia,
jantou norestauranteonde
costumavafazersuasrefei-
ções eganhou peso.
Três anosatrás, no entan-
to,Baleabandonouoproje-
to queseriadirigido por Mi-
chael Manneteriagenteco-
moTomCruiseeBradPitt
no elenco. Agora, apareceem
“Fordvs. Ferrari”,que estreia
nestaquinta-feira( 14 ), mas
no papeldo adversárioKen
Miles,pilotocontratado pela
americanaFord para derrotar


aitalianaFerrari na prova 24
Horas de Le Mans, em 1966.
“Eraumroteirofantástico,
mascomeceiasentir quete-
ria umataquecardíacoaoen-
gordar.Meucorpoestavagri-
tando:‘Você não podefazer is-
so agora’.Precisei parareper-
derpeso”,contaBale àFolha.
Matt Damon,quefazopa-
pel de Carroll Shelby, ex-pi-
lotoeengenheirocontrata-
do porHenryFord 2 º(Tracy
Letts) para construirocarro
capaz de superaraFerrari no
circuitofrancês, se antecipa
àreportagem ao questionar
apresençadeumBalegordo
em“Vice”,biografia doex-vi-
ce-presidente americano Dick
Cheney, lançada ano passado.
“Falei quenão iafazerofil-
me, mas encontrei umanu-
tricionistaque prometeu me
engordar sem parecer que eu
estavamorrendo.Basicamen-
te,comi apenasarrozeovos.
Gostaria deretornar ao papel.
Quem sabe não vivo Enzo Fer-
rari encontrandoKenMiles”,

brincaoator, quevoltaaema-
grecer em “Fordvs. Ferrari” e
já ganhaforça paraoOscar.
Naverdade,olongadeJames
Mangold (“Logan”) éumda-
quelesfilmaçosraros noatual
cinemaamericano,sem super-
heróis outemas queganham
forças nasredes sociais adoles-
centes. Outroexemplar seria
“O Irlandês”, de Martin Scorse-
se,masesseéproduzidopela
gigantedostreamingNetflix.
“É atéestranhoreceberuma
ofertadeumahistória origi-
nal”, revela Damon. “Não há
possibilidadedefranquia. É
um filmeepronto.”
Por isso mesmo,abatalha
para dar vidaàproduçãovem
desde 2010 .Nenhumexecu-
tivoqueriaarriscarinvestir
US$ 100 milhõesemumfilme
original sobrepilotos decorri-
das dosanos 1960 .Depois do
sucesso de “Logan”, Mangold
ganhouosinalverdedaFox.
Tudo parecia encaminhadoe
as filmagens seguiamfortes.
Então,nomeio do proces-

so,oestúdiofoicomprado pe-
la rival Disney. Com dezenas
de adiamentosecancelamen-
tosdeoutros longas, ofuturo
da obra pareciaincertoaté os
novosexecutivos perceberem
seu potencial paraoOscar.
Achegada da Disneypode
sercomparadaaotema do fil-
me.AFord, uma montadora
gigantesca, deseja humilhar a
Ferrari depois de um acordo
frustrado,edecidecriaruma
equipe decorridas. Masoti-
me de marketingeadireto-
riatêmdificuldades em acei-
tarobrilhanteporémrebel-
deKenMiles, umpilotove-
terano da Segunda Guerra.
“Conversamos sobreisso
enquantoestávamos filman-
do,inclusivecom osexecuti-
vos. Eclaroqueexisteuma
correlaçãoquetorna difícil
não perceber [a ironia]”,con-
firma Damon.“Háoparalelo
comaartedefazer cinema,
algoquefezeumeidentificar
comopersonagem.Nãodou
amínimaparacarros, mas sei

como alguém se sentetentan-
dofazeralgocom um grupo
de chefões bancados por uma
grandecorporação.”
Bale, por suavez, diz que
suaatraçãofoi pelo Miles pa-
ternal. “Ele tinha obviamente
uma paixão eterna pelascor-
ridas,mas agoraera pai. Será
que eleconseguiriaseguir esse
sonhotãoperigoso?”,explica
oastro, que,mesmoadoran-
do motociclismo, nãoconhe-
ciaahistória do pilotobritâni-
co que interpreta.“Éumgran-
de herói desconhecido.”
Partedissovem dafamo-
sa provade 1966 em Le Mans,
recriadacomperfeição por
Mangold. Miles chegacomo
um dos pilotosdaFordecom
duas importantes vitóriasno
mesmo ano. “O que acontece
depois que Miles cruzaali-
nha de chegadarenderia ou-
trofilme de seis horas”,exal-
ta ChristianBale.
“Vocêtemohomemeamá-
quina, que elecontrolacomo
ninguém.Derepente,surgem

‘Fordvs. Ferrari’superavenda daFox


eruma ao Oscar com Bale eDamon


Históriareal do longadeautomobilismoreverberaasrecentesdisputasecompras deestúdios


as burocracias,regrasefede-
rações gritando palavras de
ordemcontraele.Aoentrar
nocarro, estavanoseuterri-
tório.Oproblemaeraquan-
do ele saía dele.”

crítica
Fordvs.Ferrari
*****
eua, França, 2019.Direção:
Jamesmangold. Com:Christian
bale, matt DamoneJon bernthal.
12 anos. estreia nesta quinta (14)


  • SandroMacedo


“Fordvs. Ferrari” pareceum
filmeàmodaantiga.Enão só
pela trama se passar nos anos
1960 .Paracomeçar, éuma su-
perprodução orçada em qua-
se US$ 100 milhõessem ne-
nhum super-herói emcena,
algoraronaHollywoodatual.
Inspirada em uma história
real,odramacomeça coma
malfadadatentativadeFord
decompraraFerrari, bem-
sucedidanos esportes, mas
quebrada financeiramente.
Onegóciofoiumfiascoe
aFerrarifechoucomaFiat.
Com orgulhoferido, Henry
Ford 2 ºresolvesevingar on-
deaFerrari sentiria mais:ven-
cê-la nas pistas.No caso,nas
24 Horas de Le Mans —prova
que, ao lado do GP deMôna-
codeF- 1 edas 500 Milhas de
Indianápolis, integraatríade
dasmaiscobiçadas.
Para obterêxito, aFordcon-
voca Carroll Shelby(Damon),
um superengenheirodecar-
ros, que por suavez pede a
contrataçãodopiloto, KenMi-
les (Bale). Mas Milestemtan-
to talentocomopavio curto,
oquecausametadedospro-
blemas natela.
Aboa químicaentreDamon
eBaleéumdos pontos-chave
paraosucesso do filme bem
conduzido porJames Mangold
—principalmenteaatuação
deBale, que perdeutodos os
quilos de“Vice”emais alguns.
Mangoldfoidono de um dos
roteiros mais disputados nos
anos 1990 ,“Cop Land” ( 1997 ),
queatraiu váriosatoresfamo-
sos, mas ficou abaixodas ex-
pectativas. Anos depois,ele re-
cuperouoprestígiocom“Lo-
gan” ( 2017 ); agoraentrega seu
melhor trabalho.Não se es-
panteseotítulo aparecer al-
gumasvezesentreosindica-
dos do próximo Oscar.
Fãsdeautomobilismo de-
vemsedivertir em especial
comoterçofinal,quando o
enfrentamentoFordxFerra-
ri finalmentecomeça no clás-
sicocircuito—aliás, em mui-
tospaíses europeusotítulo do
filmeé“Le Mans 66 ”.
Ao lado de“A s 24 Horas de
Le Mans” ( 1971 )edorecen-
te “Rush-NoLimite da Emo-
ção” ( 2013 ), trazas melhores
sequênciasdecompetiçãoau-
tomobilística já apresentadas
—se puderveremuma sala
grande, estilo Imax,aproveite.

OtavioFriasFilhoérelembradoemlançamento



  • Nelson de Sá


sÃoPAULoCom umaconver-
sa sobreoautor, foilançado
na noite desta terça( 12 ), na li-
vrariaTaperaTaperá, emSão
Paulo,olivro“Tutankáton+O
TerceiroSinal”,deOtavioFri-
as Filho( 1957 - 2018 ), quefoi
diretor deRedação daFolha.
Aeditora Fernanda Diamant,
viúvadojornalistaedramatur-
go,iniciouoeventoagradecen-
do aos“muitos amigos deOta-
vio”eexplicandoareunião dos
doistextos,umdoinícioeou-
trodofinal desuascontribu-
içõesaopalco. “É um arcoda
trajetóriadeuma pessoa apai-
xonadapor teatro”, disse.
Marcelo Coelho,colunista da
Folha,falou da “raiva quedáa
quantidadedecoisasqueele
podiaterescrito, podiater feito
eque de algumaformafoitrun-
cada”, não só pela morteaos 61
anos.“Tudo parecetruncado
na biografia intelectualdele.”
Foiemparteseu tema notea-
tro, segundo Coelho.“OOtavio
nuncafoi umiludido,mas es-
sa coisa dos sonhos perdidos,
das ambições perdidas, está

nas duas produções”,explicou.
“É um poucoassim: Eute-
nho um sonho, esse sonho é
tãograndeeeuolevo tãoasé-
rio queomedodeque seja des-
truído me leva anão concreti-
zá-loeumesmo. Esse tipode
armadilha emqueeleentrou
estáencenado nessestextos.”
AatrizBete Coelho,queatu-
ou na montagemdeambos,
enfatizou“a teatralidade de
Otavio,queteve aoportunida-
de de trazeravida dele” parao
teatro,não só na escrita. “Ele
se colocou noteatro.Era um
frequentador de ensaios, pe-
la paixão quetinha. Esses en-
saioshoméricos, noiteaden-
tro. Ele participou detudo.”
Adiretoraeatriz Mika Lins,
querealizouaprimeiramon-
tagemde“Tutankáton”,en-
cerrada no domingo,lembrou
que “ele tinhaumolhar mui-
to generoso sobreoator” ea
fez, muitasvezes, “reencontrar
oorgulho na profissão”. Afir-
mou quetambém ela“queria
mais, mais peça,umromance”.
Tutankáton+OTerceiroSinal
autor: otavio Frias Filho.
ed.Cobogó. r$ 40(128 págs.)

AsatrizesBeteCoelhoeMikaLins emeventodelançamentode
‘Tutankáton+OTerceiroSinal’ Bruno Santos/Folhapress

Matt Damonfazopapel de Carroll Shelby,ex-pilotoeengenheirocontratadopor HenryFord2ºparaconstruir ocarrocapaz de superaraFerrari Divulgação

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