Folha de São Paulo - 14.11.2019

(C. Jardin) #1

aeee


ilustrada


C8 Quinta-Feira,14DenovembroDe2 019


13 NOVEMBRO 2019 A
2FEVEREIRO2020

INSTITUTO TOMIE OHTAKE


http://www.institutotomieohtake.org.br

OTEMPO


VESTINDO


70 ANOS DE MODAITALIANA


MINISTÉRIODACIDADANIA
GOVERNO DO ESTADO DE SÃOPAULO pormeio da
SECRETARIA DE CULTURAEECONOMIA CRIATIVA
INSTITUTOTOMIEOHTAKE
GETNET
PROTEGE
TOZZINIFREIRE ADVOGADOS
apresentam

Curadoria João Braga
Coleção Enrico QuintoePaoloTinarelli
IdealizaçãoTatiana Magalhães

APOIO
COPATROCÍNIO APOIO DE MÍDIA REALIZAÇÃO

ORGANIZAÇÃO/REALIZAÇÃOPATROCÍNIO

Natardedaquinta( 6 )dase-
mana passada, no programa


PânicodarádioJovem Pan, o
jornalistaAugusto Nunesagre-
diuotambém jornalista Glenn
Greenwald comumsoco.
Greenwald éumdos funda-
dores do siteThe Intercept,que
publicou asconversasentre


os procuradores da LavaJato
eSergio Moro. Nunescarrega
seucoraçãomaisàdireita do
queàesquerda, comaconse-
quência(nadaóbvia, mas, en-


fim,éassim)deque, paraele,
melhoragente não saber na-
da dosdiálogos entrejuiz e
promotores.
No 1 ºdesetembro,nopro-
grama Os Pingos nosIs,tam-
bém da JovemPan, Nunes ata-
couafamíliadeGreenwald,
queécasadocomodeputado
federal David Miranda(PSOL-
RJ),comquem eletemdoisfi-
lhos adotivos: “O Glenn Green-
wald passaodia dando chili-
quesnoTwitter, ou trabalhan-

do dereceptador de mensa-
gensroubadas.Esse Davidfi-
caem Brasílialidandocomra-
chadinhas, que essaéasus-
peita aí, que isso dá trabalho.
Queméque cuida das crian-
çasque eles adotaram? Isso
aí ojuizado de menores devia
investigar”.
Emretorno,Greenwald cha-
mouNunesdecovarde. Elogo
foioprimeirosoco.
Defato,Nunes nãofoicora-
joso.Ele tentou ganhar os sor-

risos mais bestas da turma do
fundão:como ficaessacoisa
de“família”de dois homens,
hein? Nãoémulher quedeve-
ria cuidar de crianças,hein?
Masvamos aproveitar,pois
restauma questão que interes-
sa atodos os pais,que sejam hé-
teros, homossexuais ou trans.
Há pais que organizam sua
vidaapartir das necessida-
des ou do supostoquerer dos
filhos. Elesrenunciamaseus
próprios desejos ouaseus prin-

cípios em nome dos filhos. Mi-
nha empresa quermetransfe-
rir paraChina,eeusacrifico
minhacarreiraemeu espíri-
tode aventuraporque penso
queatransferência seria difí-
cilparaascrianças. Querome
tornarromancista, mas preci-
soterumsalário fixoebásico
porquetenhofilhos.
Na grandemaioria dosca-
soscomo esses, as crianças se
tornamoálibi paranossasco-
vardias.Temosmedo de nos-
so próprio desejoeraciona-
lizamos: nossarenúncia se-
rá boa paraospequenos,que
crescerãocommais“presen-
ça”dos pais.
Ehápaisdiferentes,que não
renunciamaseu desejoeasu-
asconvicções “pelo bem” das
crianças. Ou seja, há paisque
não usamosfilhoscomodes-
culpas por suas desistências.
Comoficaessa alternativa
do ladodascrianças?Oque é
melhor paraelas?
Será queémelhorparaosfi-
lhos descobrireconfirmar que
os paisquerem sobretudo es-
tarcom eles, brincando deG.I.
Joe ou de boneca?Essa dedi-
caçãocorrespondeàideia mo-
derníssima de queainfância
seriaogrande ideal detodos,
inclusivedos adultos—amai-
oraspiração só poderia ser a
de passartempocomospim-
polhos,confortando-osnolu-
garidealque eles ocupam em
nossa cultura.
Claro, restaumproblema: se,
assim queder,nahoradodes-
canso,osadultos escolhem se
vestir de crianças deférias,por
que diaboascriançasteriam
amenorvontade de crescer?
Ou seráqueémelhor pa-
raos filhos descobrirecon-

firmarqueospaistêmdese-
jos,convicções evalores dos
quais eles nãodesistemeque
estão,paraeles, acima dos
deveresfamiliaresedos pró-
prios filhos?
Nãoéfácilresponder,enão
conheçopesquisasexperimen-
tais querespondam.Emge-
ral, cada um defendeotipo de
amor querecebeu ou queteria
gostado dereceber.
Eu prefiroque as crianças
nãosejamarazãodeospais
desistirem de seu desejo,e
poucoimportaopreço(au-
sência, medo de abandono
etc.).Eisso porqueasensa-
çãodetermos algoparacum-
prireodesejo deviver pa-
racumpri-lo são muitodifí-
ceis de transmitiremais im-
portantes,paraviver,doque
oaconchegofornecido por
uma presençafísica.
De 1943 a 1945 ,naresistência
antifascista, meu pai assumiu
riscos absurdos, sem secolocar
aquestão demeuirmão,que
acabavadenascer,que ele mal
viaeque poderia setornar ór-
fãomuitocedona vida—isso
semfalar de mim, que, se ele
morresse, nemteria nascido.
Ficobastantesatisfeitoque
ele nãotenha desistido de su-
as ideias. Detalhe:minha mãe
assumiuosmesmosriscos,se
não piores.
Ficaramlonge? Nãocuida-
ram?Ameuver, acharamque
dar suacontribuição paraaca-
barcomofascismo eramais
importantedoque brincarco-
nosco—eisso,não só paraeles,
masparaagente. Queriam que
crescêssemosnum mundo me-
lhorequeriam nos ensinar os
valorespelos quais eles viviam
epodiam morrer.


  • Contardo Calligaris


Psicanalista, autor de ‘Hello brasil!’(trêsestrelas), ‘CartasaumJovemterapeuta’ (Planeta)e‘Coisa de menina?’,com maria Homem (Papirus)


Filhos podem setornaroálibi paranossascovardias


Oque querem os pais?


LucianoSalles


|DOM.FernandaTo rres, DrauzioVarella|SEG.LuizFelipe Pondé |TER.João PereiraCoutinho |QUA.Marcelo Coelho |QUi.Contardo Calligaris|SEX.DjamilaRibeiro|SÁB.Mario Sergio Conti


cinema
AsPanteras
*****
eua, 2019. Direção:elizabeth
banks. Com: Kristen Stewart,
naomi Scotteellabalinska. 14
anos. estreianestaquinta(14)


  • Ivan Finotti


Aspanteras já dizemaque vi-
eram nos minutos iniciaisde
projeção do filme que leva o
nomedogrupo: para colocar
homenscaricaturais natela.

Sãoosque prometemamar
mulheres mas as querem em
casa enquantoeles traba-
lham.Ouque marcamreu-
niõescorporativasenão dei-
xam queacientistafale uma
míserapalavra. Emtempos
de empoderamento, oterre-
no estáfértil paraelas.
Éclaroque esses patéticos
misóginosserãopunidos du-
ranteofilme,comprisão ou
coisa pior.Merecido. “A sPan-
teras” estão devoltaparace-
lebraraforça,aespertezaea
inteligênciafemininas,enada
mais justo doqueisso.
Destavez, asregras do jogo
estão mudadas.Noantigose-
riado deTV,queteve seisatri-
zesserevezandoentre 1976 e
1981 ,enos dois filmes, de 2000
e 2003 ,havia as três mulheres
(nastelonas, Cameron Diaz,
DrewBarrymoreeLucy Liu),
oBosley, que lhes dava ordens,
eoCharlievia interfone.
Agora, sãocentenas de pan-
terasespalhadas pelo mundo,
assimcomo dezenasdeBos-
leyscomandando. Charliecon-
tinua único—esem aparecer.
Apesar das novidades, nada
énovodeverdade.Oesque-
ma de agentes espalhadospe-
lo mundoéomesmoconcei-
tode infinitos filmes dogê-
nero, de “Missão Impossível”
a“Kingsman: ServiçoSecre-
to”, paranão citarooriginal
“ 007 ”.Masépreciso citá-lo,
pois muitas outrascoisasfo-
ramchupadas de lá.
OvelhoQ, que emtodo filme
apresenta aJamesBond as ar-
maseoscarros maisavança-
dos do planeta,aquirespon-
de pelo nomeSanto. Porém,
como as panteras sãogarotas,
além de transformarbalas de
mentaemtranquilizantes e
escondermicrofonesempul-
seiras de ouro, Santotambém
sabefazerchás,compressas
paraaliviar osroxose,ainda,
estalar ascostas das nossas
queridascombatentes.
Acópiaétão óbvia que de-
ramumjeitodehomenagear o

velhoIan Fleming, criadordo
007 ,batizandoum dosvilões
como Peter Fleming, nome de
um deseus irmãos.
Quantoaoroteiro,dávon-
tade de bocejar detãove-
lho.Umbilionáriodesenvol-
ve uma nova tecnologiapara
mudaromundo, mas ela está
em vias de ser transformada
emterrível arma mortal por
agentes do mal.
Ditoisso,ofilme nãoéde
todo mau. KristenStewart,
EllaBalinskaeNaomi Scott
conseguem criar empatia
comopúblico edão um show
nos papéis.Principalmen-
te Stewart, que homenageia
aantigaSabrinadasérie de
TVcomseu personagem, só
que agoraassumidamente
homossexualemuitomais
brincalhonaqueaoriginal.
Noinício,encontramos du-
as delas,Sabina (Stewart) e
Jane (Balinska)no RiodeJa-
neiro. Amúsicadeabertura
édeAnitta. Poucodepois,o
Bosleyqueas comanda, vivi-
do porPatrick Stewart, vaise
aposentar.Assumealiderança
umaBosleyinterpretada por
ElizabethBanks—que, aliás,
também dirigeofilme.
Reviravoltas acontecerão e
as cenas de ação sãoexcelen-
tes. Achegadada novata Ele-
na (Naomi Scott)vaiditar o
tomdofilme. Lá pela meta-
de da história,ainvasão de
um laboratóriopelas agentes
lembra os melhores momen-
tosdeTom Cruiseeseus ami-
gosem“Missão Impossível”.
Sãotambémdivertidas as
brincadeirascomasvelhas
panteras, que aparecem em
fotosnoiníciodofilmeeguar-
dam uma surpresaparaofinal.
É, enfim, entretenimento
razoável para duas horas. Mas
sem um pingode cinema, le-
vando-se emconsideração a
visãodeMartin Scorsesepa-
raessa arte. Recentemente,
eleexplicou que filmes de su-
per-heróis da Marvel não são
cinema.Nemdepanteras.

Graçasaelenco,‘A sPanteras’ se safade


ser mero clichê de espionagemediverte


EllaBalinska, KristenStewart eNaomiScott são as espiãs protagonistas de‘A sPanteras’ Divulgação

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