Folha de São Paulo - 21.10.2019

(Brent) #1

aeee Segunda-Feira, 21 deOutubrOde 2019 B5


ambiente



  • Simon Ducroquet


SãoPauloUm esforçocon-
junto entrepesquisadores da
agênciaamericanaNoaa (Ad-
ministraçãoNacionalOceâ-
nicaeAtmosférica dos EUA)
edaUniversidadedeMiami
propõe um método usado pa-
ra rastrear destroçosdoavião
da Malaysia Airlines no ocea-
no Índico,em 2014 ,paraiden-
tificaraorigem do petróleo
nas praiasdoNordeste.
Entreoscientistas dedica-
dosàtarefaestáooceanó-
grafobrasileiroMarlosGo-
es, que disponibilizou osre-
sultados preliminares do es-
tudo àFolha.
Ométodosebaseia no uso
de “derivadores oceânicos”,
boias um poucomaiores que
uma boladebasquete comum
arrastode 15 metros de pro-
fundidadeeque são arrasta-
daspelascorrentes marinhas.
Há milhares delasespalha-
das pelos oceanos, coletando
dados sobrepressãoatmos-
férica,temperaturaelocali-
zação.Esses dadossão envi-
ados emtemporeal paraos
computadores daNoaaatra-
vésdesatélites.
Comessesdados, os pesqui-
sadoresconseguiramcons-
truiromapa que mostraas
correntes marítimas no mo-
mentoanterior ao início do
aparecimentodas primeiras
manchasdeóleonoNordes-
te brasileiro.
Esses dados alimentaram
um modelo estatísticonoqual
várioscenários são levados
emcontaeoresultado apon-
taparaaprobabilidadeda
origem do óleoemdiversas
áreas,enão um únicoponto.
Quando esse métodofoi
aplicado nocaso da Malaysi-
anAirlines, existiamfortes in-
dícios do pontoondeoavião
haviacaídonooceano Índico,
mas os destroços já tinham si-
do dispersados pelascorren-
tesmarítimas.Ométodoba-
seou-se nos dadoscoletados
pelas boias derivadoras para
determinaratéonde os des-
troços tinham sido levados.
Defato,muitosestavam en-
contrados próximosàcosta
lestedocontinenteafricano,
amilhares de quilômetros do
local de origem,como havia
previstoométodo baseado


Técnicausada em desastre


aéreo ajuda na buscapor óleo


Cientistas usam modelo de busca derestos deavião paraacharfontedas manchas


IbamaegovernodePEdivergem sobreestratégia paracombateróleo



  • Italo Nogueira


RiodeJaneiRoRepresentan-
tesdoIbamaedogoverno de
Pernambuco expuseram, nes-
te domingo( 20 ), divergências
técnicas sobrecomocomba-
teroóleoqueatingeolitoral
doNordeste.
Opivôdadivergênciaéo
uso de boias decontenção
paraevitarachegada do ma-
terial às praiasefozdos rios.
Osecretário de Meio Am-
bientedePernambuco, Jo-
sé Bertotti, criticouofatodo


Ministério do Meio Ambiente
nãoterrespondido uma soli-
citação de envio de 3 , 5 quilô-
metros de boias paraprote-
gerparte do litoraldoestado.
Odiretor de proteção ambi-
ental do Ibama, OlivaldiAze-
vedo, afirmou queoequipa-
mento“nãotemsemostrado
nada efetivo”.
“Namaioria doslocais, elas
[boias] nãotem efeitotécnico
positivonenhum.Éimportan-
te queseentenda que, nesse
momento, agentequer encon-
trar umatecnologia diferen-

te,algoinusitado,algoquere-
solvaoproblema. Hojeoque
se resolveoproblemaémo-
nitorareretiraresse materi-
al [quando ele chegaàsarei-
as]”,disseAzevedo.
“Retirardepois que chegaé
umacertezatécnicaque nós
temos”,declarou ele, que diz
estarreferendado poruma as-
sessoriainternacional.
Bertotti, por suavez, defen-
deu quesetentebarrarache-
gada do óleoainda emalto-
mar.Citoucomoexemplo a
açãofeitanaquinta( 17 )noli-

toralentreAlagoasePernam-
bucoemque seretirou uma
tonelada doresíduo antesde
chegaràpraia.
“Se as barreiras não são efi-
cientes, elas podemminoraro
problema. Há uma divergên-
ciatécnicaaqui. Pernambu-
co vaicontinuar perseguin-
do sua posição”,disseBertotti.
Em nota,oIbama afirma
que “barreiras decontenção
sãocompostas por uma par-
te flutuanteeoutrasubmersa,
chamada saia, quetemafun-
çãodeconter oóleosuperfici-

al (substânciacomdensidade
menor queadaágua), mas o
poluentequeatingeonordes-
te do país seconcentraemca-
mada subsuperficial”.
Adivergência se deve às pro-
priedades do óleoqueatingeo
Brasil. Mais denso do queoha-
bitual, elenão se movimenta
pelasuperfície, onde as boias
têmmais efeito, masmetros
abaixodalinha d’água.
“É um acidentetotalmen-
teinéditono Brasil, prova-
velmente tambémnomun-
do ocidental”, disseocoman-

dantedeOperaçõesNavais da
Marinha, almiranteLeonar-
doPuntel.
Bertottitambém criticou
afaltadeenvio pelogoverno
federal deequipamentopa-
ra aretirada doresíduo que
chegou às praias.Puntel afir-
mou queogovernofederal
vairessarcir os estadospor
essesgastos.
Osecretáriotambém criti-
couademoranaexecução do
PlanoNacionaldeContingên-
cia paraIncidentesdePolui-
çãopor Óleoem Água.

nas boias.
No caso do petróleonoNor-
deste,omodelofoiaplica-
do aoreverso,porque não se
sabeopontodeorigemdas
manchas,esimolocalonde
elas são encontradas aoatin-
giracosta.
Para issoforamconsidera-
dosvárioscenários, levando
emconsideração diferentes
durações, já queomomento
em queovazamentoocorreu,
ou aindaestáocorrendo,tam-
bémédesconhecido.
Um doscenáriosconsidera

queopetróleocomeçaaser
derramadocercade 2 meses
antes das primeirasmanchas
aparecerem nas praias.Nes-
secaso,émaisprovávelque
ovazamento tenha ocorrido
distantedolitoral,numafai-
xa queacompanhaasgrandes
correntes doAtlântico, acer-
ca de 700 km dacosta.
Outrocenárioconsidera
queoderramamentotenha
sido maisrecente,cercade
duas semanas antes das pri-
meiras manchas aparecerem.
Nessecaso,omais provável

équeopontodeorigem seja
próximoàcosta,numafaixa
onde há umarota movimen-
tada de navios.
Goes eaequipedoestudo
não tiveram acessoadetalhes
da químicadoóleo, que po-
deria indicarháquantotem-
poasubstância estánomar
e, comisso,aumentarapre-
cisão doresultado.Segundo
ele,oóleosofremodificações
duranteseu trajeto devidoao
consumo por bactériaseeva-
poração,eisso poderia indi-
carháquantotempoovaza-
mentoaconteceu.
Há aindaapossibilidade de
queoóleoesteja se deslocan-
dologoabaixodasuperfície
da água, sobaaçãodeoutras
correntes.Nessecaso,assi-
mulações indicaram quea
substância estaria se disper-
sandomaislentamente. Ou
seja,mesmo queovazamen-
to tenha ocorrido há poucos
meses,asua origempoderia
ser próxima dacosta, acerca
de 400 km.
Outrasimulaçõesjávêm
sendofeitas. Estudo do pes-
quisador FernandoTúlio Ca-
miloBarreto, vinculado ao
Inpe, sugerequeaorigemdo
óleoestáacerca de 400 kmda
costa. Outroestudo,daUFRJ,
indicaaorigem numafaixa de
600 a 700 km dacosta.
Osrepresentantes dogo-
vernofederal declararamque
monitoramoóleodesdeodia
30 de agosto.
Atéasábado ( 19 ), 200 locali-
dades doNordestetinham si-
do afetadaspelamanchas de
óleo, de acordocomoIbama.
Durantecoletivadeimpren-
sa,neste domingo( 20 ), umre-
presentantedoIbama infor-
mou queforamidentificados,
atéomomento, 67 animais
atingidos pelo óleo, dos quais
14 tartarugas mortas.
OMinistérioPúblicoFede-
ral(MPF) afirma que 2. 100 km
nos nove estados daregiãofo-
ramafetados desdeofimde
agosto, quando as primeiras
manchas de óleosurgiram.
OMPF entrou, na quinta
( 17 ),comuma açãocontraa
União por omissão no desas-
tredas manchas de óleo.
SegundooMPF,trata-se do
maiordesastreambientalda
história nolitoral brasileiro
emtermos deextensão.

Voluntáriostiramóleodepraias

Nos últimos dias, asredes sociaistêmsido invadidas
por imagens devoluntários limpandooóleo das
praias no Nordeste^1 .Omunicípio de Cabo de Santo
Agostinho (PE), porexemplo,pediu, emrede social,
ajuda das pessoas paraalimpeza de locais atingidos.
Aomesmotempo,celebridadescomo IveteSangalo
2 eLetíciaSabatella 3 destacaramoproblemaeo
trabalhofeitopelosvoluntários^4

Velocidade das correntesnasuperfície
Ta manho das setaséproporcionalàvelocidade em agosto

Como funcionam
os derivadores
oceânicos

Principaisrotas de navio

Umarrastofeito
detecido desloca
aboiacomaforça
dascorrentes que
correm por baixo

15 m

Um
de
ab
das
cor

m

BA

MG

PI

CE
RN

SE

PE

Fontes: Marlos Goes,
PhilippeMironeRick
Lumpkin,pesquisadores
da NOAAeda
Universidade de Miami

Aboiaéequipada
comsensores que
medemtempe-
ratura, velocidade
do ventoelocali-
zação por GPS

Cenários indicampossíveis origens do petróleo

Probabilidade


Levando em
consideração
queopetróleo
chegouàcosta
dois mesesapós
ovazamento

Levando em
consideração
queopetróleo
chegouàcosta
duas semanas
após o
vazamento

Maior Média Menor

50 km

BA

CERN

MG

rota
denavi
os rot

ad

en

avios

400 km

BA

PE

CERN

MG

rota
de
navios

s

rota

de

navios

200 km 200 km

1


2


3


4

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