Folha de São Paulo - 21.10.2019

(Brent) #1

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opinião


Segunda-Feira, 21 deOutubrOde2 019 A

erramos
[email protected]

Governo Bolsonaroxóleo
“GovernoBolsonaroextinguiuco-
mitês do planodeaçãodeinciden-
tescom óleo”(Ambiente, 19 / 10 ).
Quandovaiaparecer alguémcom
sanidade mental para frearades-
truição das instituições do Esta-
do? Consideroculpados dissotu-
do empresáriosgananciosos que
viram na eleição deBolsonarouma
oportunidade parafazeroEstado
mínimoegrátis. Uma utopia que
vaicustarcaro atéparaesses apoi-
adores do presidente.Aestaaltu-
ra,jádeveriamestartorcendo por
umarenúnciadele. Menostraumá-
ticoparaopaís.
JoseRobertoX. de Oliveira
(São Paulo,SP)

*
Aprofusão deconselhos monta-
da pelo petismoépartedoBrasil
corporativoondeoEstadoémeio
de vidafácil paraosmais desacor-
çoados ou parapolíticos derrota-
dosemeleições. Planosdeaçãodi-
versos devemser feitosatravésde
consultoriasde qualidade,comofa-
zemos“mortais” da iniciativapri-
vada quenãotêm dinheiropra jo-
garfora—de modoefetivoemui-
to mais barato.
HildebrandoTeixeira(Piumhi, Mg)

*
Aatual administraçãofederalvai
pagarcaropela omissão no tra-
todestaquestão.Aseleições de
2020 vãodemonstraroacertode
nossaassertiva. Quemvaivotar
emcandidatosdoPSLecompa-
nhia diantedetão elevado grau
de omissão?
Miguel Medeiros(recife, Pe)

*
Um óleomuitomais nefastodoque
aquele que poluiolitoral nordes-
tinotomoucontadoBrasileestá
tirandoavitalidade detudooque
ele alcança—pessoas, instituições
eeconomia. Urge despoluiropaís
do “bolsonóleo”.
Túllio MarcoSoaresCarvalho
(beloHorizonte,Mg)

Chile
Mas nãoéoparaíso dos “Chicago
boys”? (“Chile decretaestado de
emergênciaapós protestosviolen-
tosemSantiago”,Mundo, 19 / 10 )O
máximoexpoentedoliberalismo
latino? Povochato,não quer mor-
rerdefome pela pátria.Bando de
comunistas.
AlexandreBarboza(barueri,SP)

*
Quandoéemumpaísgovernado
pelaesquerda,éculpa dos EUA,
dos embargosinexistentes ou de
umaconspiraçãodas elites.Quan-
doéemumpaís de direita, aíacul-
paétoda dogoverno.Assimracio-
cinam os progressistasbrasileiros.
TiagoVieiraGomes
(São Luís deMontes belos,gO)

Universidade
Num domingofrioenublado,ter o
prazer de ler “Projeto ‘tevira, uni-
versidade’”,daescritora Marilene
Felinto(Ilustríssima, 20 / 10 ),ére-
almenteumpresente.Matériaes-
clarecedora, sobreaUFSCar,cita
Marilena Chauieototalitarismo.
Anossalutapor liberdade, frater-
nidade, igualdade, justiçaefelici-
dadeéfundamental paraencarar-
mos esse momentode“trevasbol-
sonarianas”.Nãovaiter trégua!
LucianaFontana Pimentel
(São Paulo,SP)

Críticas
Diverteler críticas àFolhapor no-
ticiarasmazelas doatual desgover-
noeseus aliados. Muitosimples a
solução,bastaparar de lê-la.Já nós,
orestodobrasileiros,nãotemos a
opção de parar deaturaroamalu-
cado presidente, porevidente, su-
as atitudes nos afetamtambém.
MarcoCésardeSouzaMendes
(VilaVelha,eS)

Lula
Lulaéumcínico(“Lula aguardaSTF
eplanejacaravana pelo paíscaso dei-
xe prisão nesteano”, Poder, 20 / 10 ).
Com seu discursosegregador,divi-
diuoBrasil, ajudouagestarBolsona-
ro,colocouoposteDilma, quedes-
truiuaeconomia do país,e,agora,
se vendecomoosalvadordapátria.
Só pode ser piada.Vaiacabar dan-
dodebandejamaisquatroanosde
mandato aoBolsonaro.
LeandroAgostiniGranzotti
(aracaju, Se)

*
Nãosesabe se Lulaconseguiráde
voltaseu direitodeparticipar de
umaeleiçãoejátemgentemor-
rendo de medo de que elerode o
país? Ora, sevocê nãogostadoLu-
la, nãovote nele,façaoposição.Is-
sofazpartedademocracia. Man-
tê-lo encarcerado por meio de um
julgamento suspeito, daformaco-
motodooprocessofoiconduzido
porMoro, éque não dá.
Marli Moras Garcia(Vitória, eS)

Democracia
Todososdias,vemososditos “re-
presentantesdopovo”brigando
por interesses pessoais,porvai-
dade, por poder,paraenriquecer
ilicitamente. Com isso,esquecem
do Brasil,dopovo, largamàderiva
educação,saúde,economiaesegu-
rança.Nãovejoomesmo empenho
paraapresentar projetosparame-
lhoraravida do brasileiro, recupe-
rarempregoseacabarcomacor-
rupção. Issoémesmodemocracia?
Luiz ClaudioZabatiero(São Paulo, SP)

Prescriçãodeprocesso
Qualéanovidade (“Justiçadeixa
prescrever açãocontraEdir Mace-
do prontaparajulgamento”,Poder,
19 / 10 )? ÉaJustiçaparcialeseletiva
quetodosconhecem,masmuitos
fingem, porconveniência política
ideológicaoupuraingenuidade,
que elaéisentaeimparcial.Dois
pesos. Duas medidas. Isso dá um
orgulho de ser brasileiro...
AlexandreMissaelKozerski
(Foz do iguaçu, Pr)

Denúncia
ParaHélio Schwartsman,amu-
lher deve terrespeitadasua priva-
cidadecaso não queira denunciar o
agressor (“O mal do século”, Opini-
ão, 19 / 10 ). Mas não devemosesque-
cerqueamulherouacriançaque
apanhaapontodeparar no hospi-
taléalguém quesetornoumuito
vulnerável. Esão esses os quemais
precisam da presença protetorada
sociedadeedoEstado.Bolsonaro,
portanto, aovetaroprojeto, segue
coerenteàsua misoginia. Um ape-
lo: “Pensemnas crianças,mudas
telepáticas.Pensem nasmulheres,
rotasalteradas”detantoapanhar.
Ana MariaBeghettoPacheco
(Curitiba,Pr)

*
Namosca, Schwartsman.Bemco-
locadoebem analisado,oEstado
nãotemdesemeter emtudo,co-
motambém nãotem de ser omis-
so.Quantoaonosso presidente,
prefironão vituperar.
Marcelo Rocha(ribeirão Preto, SP)

Diversidade
Flavia Limafoicerteiraaodesta-
caraimportância da diversidade
de olhares no jornalismobrasileiro
(“Ecos que aindavêm dacasa-gran-
de”,Ombudsman, 20 / 10 ). Elatrazà
tonaobaixonúmerodenegros na
Redação daFolha.Conformedito,
“asnovas gerações são mais sensí-
veis aotemaereagem maisàdis-
criminaçãoeaoracismo”.Esse é
ocenárioatual,como pode sever
comaexpansão de movimentos
feministas negros.Ojornal preci-
sa se movimentar para abraçar jor-
nalistas devariadas origens, pois
oleitor sótemaganharcomisso.
SofiaLemosTomazdeAquino
(São Paulo,SP)

Mercado(15.OUT.,PÁG.A20)Dife-
rentementedoafirmado pelo se-
cretário daFazenda do Ministério
da Economia,Waldery Rodrigues,
nareportagem “Governo propõe
extinção de multade 10 %doFGTS

paraempregador”, amultade 10 %
sobreoFGTS(Fundo de Garantia
doTempo de Serviço) passouaser
cobrada de empregadores que de-
mitem funcionários em 2001 ,não
na década de 1970.

PaINeLDoLeITor


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direitodepublicar trechos das mensagens. informe seu nomecompletoeendereço

No começo da década de 1980 ,obri-
lhantebrigadeiro Aldo VieiradaRo-
sa, professor eméritodaUniversi-
dade Stanford(EUA)eespecialista
em ionosfera(parte superiordaat-
mosferaterrestre),escreveumarti-
gopara estaFolhaalertando sobre
aemissão degases de efeito estufa
easconsequênciasparaoclima. Pe-
guei opião na unha.Voltei paraos
livros, para os artigos.
Conclui então queacombinação
defenômenos físicosresponsáveis
pelo efeitoestufaatmosféricoti-
nhacomoconsequênciainexorável
oaquecimentodaTerraedesuaat-
mosfera.Etaisfenômenos decorri-
am necessariamente dacombustão
de materiais orgânicos,tais como pe-
tróleoeseus derivados,carvão,gás
natural, madeiraeoutros produtos
vegetais. Meuscálculos mostravam
queovolume degases do efeitoestu-
fa que seriam produzidos pela quei-
matotaldaflorestaamazônicaseria
equivalenteaodaqueleemitidope-


lo petróleojáqueimado somado às
suasreservasmedidas. Lancei-me à
luta pelo esclarecimentodapopula-
çãoedos governantes.
Fuichamado de alarmista,inclu-
sivepor eméritos acadêmicos.To-
davia, já no início do século 21 não
havia um únicocientista, reconhe-
cido pelacompetência, que negas-
seoaquecimentoglobalesuagê-
nese naatividade humana.Aspou-
casvozesque negam hojeoaqueci-
mentoglobalesua origem antro-
pogênicaousão de pseudocientis-
tasembuscadeholofotesoudesus-
tentoalimentar.Tambémépossível
que sejamtãotapados intelectual-
menteque nãoconsigam entender
osfenômenos da físicaelementar
envolvidos no aquecimentoglobal.
Porfalar emJair Bolsonaro, opresi-
dente do Brasiltemtodaarazão em
lutarveementementepela soberania
nacional. Masvoltemosàvacafria.
Onegacionismo científicorelativo
ao aquecimentoglobal entrecientis-

taséhojezero.Decerca de 25 milar-
tigossobre oassunto,publicadosde
2014 a 2016 ,apenas 5 negamanatu-
reza antropogênicadoaquecimen-
to global.Epode-se imaginar quais
sejamsuas obscuras motivações.
Nãonegoasoberaniade meuvi-
zinho sobre suacasa eseu quintal,
mas peçoainterferência da polícia
se depois das dez da noiteele põe
naquela alturaoseurock metálico.
Se pudéssemos manter em nosso
espaçosoberanoasinsidiosas mo-
leculazinhas que emitimos quan-
do pomosfogoemnossamata,si-
tuada em nossoterritório nacional,
então poderíamosfalar em sobera-
nia. Mas aconteceque essasdana-
das moleculazinhas são indiscipli-
nadas.Nãoaceitam ordem unida.
Elaseseus efeitos nocivos se espa-
lham pelaTerra. Uma queimada no
Pará podecontribuir paramatarum
pobre paquistanês que nuncaouviu
falar em Amazônia—ouumletra-
do alemãoeaté mesmo um ameri-
cano trumpista.
Asmoléculas degases de efeitoes-
tufa emitidas no Brasil nãorespei-
tamasoberania dos demais países
do planeta. Eis por que essa sobera-
nia sobreaAmazôniatemque ser
mais bemcompreendida.
Enão devemos esquecerosábio
ensinamentodeGoethe:“Aquele que
não secontrola acaba sendocon-
trolado”.Asoberania sobreaAma-
zônia precisa serconquistada. Só a
mereceremos seacultivarmosea
respeitarmoscomoverdadeiropa-
trimônioaserconservado.

Nãoéincomum eu escutar que não
pareçouma advogada.Nosprimei-
rosanosde advocacia, acreditava
queisso tinharelaçãocomaaparên-
cia aindajuvenil, mascomotempo
fui levadaarefletirsobrecomo as
relações sociais sãoconstruídas e,
inevitavelmente, medepareicoma
questão étnico-racial.
Em 2015 ,graduada aos 23 anos em
direito,não tinhaareal dimensãode
como direitoemedicinacontinua-
vamnoimaginário das pessoasco-
mo algodistantee“elitizado”,defor-
ma queoimpactoimediato éalei-
tura desses profissionaiscomo de-
tentores de status social ligadoàri-
queza.Eéexatamenteapartir des-
sesenso comumquedecorreain-
tersecção entreclasse socialeetnia.
Nãopodemos esquecerqueacor-
dialidadefoiinstrumentoindulgente
que ocultou por muitotempoade-
sigualdaderacial, ondeaemprega-
da domésticaeocaseiro, geralmen-
te negros, poderiam tranquilamen-
te serem chamadoscomo“perten-
centes dacasa”ou“quase dafamí-
lia”, desde que não agissemcomo
tal—ou seja, eradebomtomque
ficassem circunscritosàserventia,
comacesso apenas aos fundos daca-
sa.Reflexão traçada brilhantemen-
te no filme “Que HorasEla Volta?”.
Namesma linha,apráticadiscri-

minatória adentraas grandescor-
poraçõeseescritórios de advoca-
cia. Exemplodissofoidemonstra-
do numtestedeimagemrealizado
comprofissionaisderecursos hu-
manosfeitonoestado doParaná.
Nafase um de análiseforam apre-
sentadas aosrecrutadores seisfotos
sem identificações de nome, idade
ou origem, apenastendo emcomum
apele branca: 1 -umjovemcorren-
do; 2 -uma moçasegurando umca-
saco; 3 -umhomem deterno; 4 -um
rapaz cuidando do jardim; 5 -uma
mulher limpandoapia; e 6 -uma
garota segurando na mão uma tin-
ta spray.Nasegundafasefoiapre-
sentadoomesmoconceitodefotos,
mascompessoas negras.
Oprocedimentoeaperguntareali-
zadanas duasetapasforamdeigual
forma.Asimagens eram mostradas
individualmentee,emseguida,oen-
trevistador perguntavaaos recruta-
doresoque viam nafoto.Aojovem
brancocorrendofoiditoque ele es-
tavaatrasado,enquantoaonegro
que ele erabandido.Amoçasegu-
rando umcasacofoi vistacomo de-
signer de moda; jáanegra,costurei-
ra.Ohomem brancodeternopare-
cia umexecutivo;onegrofoi apon-
tadocomo segurança.Sobreorapaz
caucasiano cuidando do jardim, dis-
seram seroproprietário dacasa; o

negro, jardineiro. Amulher branca
limpandoapia eraaproprietária,
enquantoanegra,empregada. Por
fim,agarotabrancaera apenas uma
grafiteira; jáanegrafoi considerada
uma pichadora.
Defato,não diferem em nada de
situaçõesdas quaisjá passei,como
estar nofórum acompanhada de
uma clientecaucasianaeoescre-
ventedirigir-seaelacomosefosse
aadvogada. Ou quando euestava
comumacolegaadvogadacaucasia-
na em umareuniãoexternacomdi-
retoresdeumpotencial cliente. Na
mesa, eu eraaúnicaque detinha o
conhecimentojurídicodamatéria;
entretanto, todosreportavam-seex-
clusivamenteaela.
Éclaroqueoaudiovisualeapu-
blicidadecontribuem violentamen-
te paraessecenário,criando quase
queumprocesso pedagógicoque
delimitaaetnicorracialidade das
pessoas,capitaneandooimaginário
da sociedade deformaacriar uma
identidade postacomooretrato so-
cialmodelo, oque acaba porcausar
espantoquando alguémse depara
comuma pessoa negranacondição
de médico, engenheiro, juizouar-
quiteto. Nãohádúvidadeque essa
normatividadeéperversa, principal-
menteporque ao se debruçar sobre
atemáticaépossível observarque
não se tratadealgoinofensivo, mo-
deradoedespretensioso,aocontrá-
rio.Aausência de um olhar críticoe
antirracistasobreotematemefeito
real na vida da população negra, já
que em menor ou maior grau desa-
provaprofissionais em entrevistas
de emprego, fomentaasbatidas po-
liciaisecria obstáculos paraaascen-
são social dessa população.
Meuconviteéparaquevocênão
naturalizeoolhar.Seja crítico, obser-
ve,questioneeacima detudo parti-
cipe desse processodedesmistifica-
çãodostatus quo.

Adoutora


da pele preta


Soberania, Amazônia


eaquecimentoglobal


TeNDêNcIas/DebaTes


folha.com/tendencias [email protected]
Os arti gospublicadoscomassinaturanão traduzemaopinião do jornal. Sua publicação obedeceaopropósitodeestimular
odebatedos problemas brasileirosemundiaisederefletiras diversastendências do pensamentocontemporâneo



  • MoniqueRodrigues doPrado
    advogada, integrantedocorpode advogados voluntários daeducafro, cofundadoradoafronta
    ColetivoeparticipantedoComitêdeigualdade racial do grupo Mulheres do brasil


  • Rogério Cezar de CerqueiraLeite




Físico, professor eméritodaunicamp,membrodoConselhoeditorial daFolhaepresidentedo
Conselho de administração do CnPeM(Centronacional de Pesquisa em energiaeMateriais)


Cesar HabertPaciornik


Queimada no Paráafeta paquistanês ou trumpista


no fórum,confunde-se clientebrancacomadvogada

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