–H
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Gadjo
oje está um tempo fantástico – disse Bjarne Møller ao entrar no
gabinete de Harry e Halvorsen na manhã seguinte.
– Bem, tu lá sabes. Tens uma janela – disse Harry, sem erguer os olhos da
chávena de café. – E uma cadeira nova – acrescentou quando Møller se
deixou cair na cadeira defeituosa de Halvorsen, que soltou um guincho de dor.
– Bom dia, sol – replicou Møller. – Estás a ter um dia mau?
Harry encolheu os ombros.
– Estou a chegar aos quarenta e começo a gostar de resmungar. Alguma
coisa de errado nisso?
– De modo algum. Já agora, é agradável ver-te de fato.
Harry levantou as lapelas do casaco como se só naquele momento tivesse
descoberto o fato escuro.
– Ontem houve uma reunião de chefes de Unidade – disse Møller. – Queres
a versão longa ou a resumida?
Harry mexeu o café com um lápis.
– Temos de deixar de investigar o caso de Ellen. É isso?
– O caso foi fechado há séculos, Harry. E o chefe do Departamento Forense
diz que os andas a chatear com todo o tipo de provas antigas.
– Ontem encontrámos uma nova testemunha que...
– Há sempre uma nova testemunha, Harry. Eles apenas não querem mais.
– Mas...
– Traçámos-lhe uma linha por cima, Harry. Lamento.
Møller virou-se junto à porta.
– Vai dar um passeio ao sol. É capaz de ser o último dia quente durante
algum tempo.
– Corre o boato de que está um dia ensolarado – disse Harry ao entrar na
Casa da Dor e ver Beate. – Só para que saibas.