– Sim. Uma... amiga.
– Então primeiro talvez seja melhor tentares livrar-te dessa mancha
castanha no ombro.
Harry esticou a cabeça para o lado.
– Do contentor – disse, a sacudir o ombro. – Já saiu?
Beate estendeu-lhe um lenço.
– Tenta com um pouco de cuspo. Era uma amiga próxima?
– Não. Ou sim... talvez, durante algum tempo. Mas temos de ir a funerais,
não temos?
- Tens?
- Tu não?
– Só fui a um funeral em toda a minha vida.
Ficaram em silêncio.
– O teu pai?
Ela assentiu.
Passaram pelo cruzamento de Sinsen. Em Muselunden, na grande área
relvada abaixo de Haraldsheimen, um homem e dois rapazes tinham um
papagaio de papel no ar. Estavam todos três a olhar para o céu azul e Harry
viu o homem a dar o fio ao rapaz mais alto.
– Ainda não apanhámos o homem que o fez – disse ela.
– Não, não apanhámos – disse Harry. – Ainda não.
– Deus dá e Deus tira – disse o padre, baixando os olhos sobre as fileiras de
bancos vazios e o homem alto de cabelo curto que acabara de entrar em bicos
dos pés, à procura de um lugar no fundo da igreja. Esperou até o eco de um
soluço elevado e comovedor morrer sob o tecto abobadado. – Mas há vezes
em que parece que Ele se limita a tirar.
O padre salientou a palavra «tirar», e a acústica ergueu a palavra e
transportou-a até às traseiras da igreja. Os soluços voltaram a aumentar. Harry
observou. Pensara que Anna, que era tão extrovertida e animada, tivesse
muitos amigos, mas contou apenas oito pessoas, seis na fila da frente e duas
na parte de trás. Oito. Sim, bem, e quantas iriam ao seu funeral? Talvez oito
pessoas não fosse uma média assim tão má.