ela ia casar aos catorze anos com um gringo -cigano grego, em Espanha, mas
antes de o casamento ser consumado fugiu com um gadjo.
- Gadjo?
– Um não cigano. Um marinheiro dinamarquês. A pior coisa que se pode
fazer. Lança a vergonha sobre toda a família.
– Hm. – Enquanto falava, o cigarro por acender saltava para cima e para
baixo na boca de Harry. – Estou a ver que conheces bastante bem esse Raskol.
Ivarsson afastou o fumo imaginário.
– Tivemos uma ou outra conversa. Eu chamar-lhes-ia escaramuças.
Conversas substanciais virão depois de a nossa parte do acordo ter sido
cumprida, por outras palavras, depois de ele ter estado presente no funeral.
– Então, até ao momento, ele não disse muito?
– Nada que tenha qualquer importância para a investigação. Mas o tom foi
positivo.
– Tão positivo que a polícia está a ajudar a carregar a sua parente até ao seu
local de repouso?
– O padre perguntou se Li ou eu podíamos ajudar a carregar o caixão para o
número ficar certo. Por nós tudo bem, de qualquer maneira tínhamos de
manter um olho nele. E vamos continuar. Isto é, a manter um olho nele.
Harry semicerrou os olhos sob o ofuscante sol outonal. Ivarsson virou-se
para ele.
– Que uma coisa fique bem clara, Hole. Não é permitido a ninguém falar
com Raskol até nós termos acabado de o fazer. Ninguém. Durante três anos
tentei fazer um acordo com este homem que sabe tudo. E agora consegui. Não
vou deixar que ninguém lixe as coisas. Compreendes o que quero dizer?
– Diz-me, Ivarsson, já que estamos a ter aqui uma pequena tête-à-tête –
disse Harry, a tirar um pouco de tabaco da boca. – Este caso transformou-se
numa competição entre nós dois?
Ivarsson levantou o rosto para o sol e soltou uma gargalhada.
– Sabes o que eu teria feito se fosse a ti? – disse ele de olhos fechados.
– O que terias feito? – perguntou Harry quando o silêncio deixou de ser
tolerável.
– Teria enviado o meu fato para a lavandaria. Parece que estiveste deitado