Schulz agarrou a maçaneta da porta de entrada.
Ouviu-se um ruído metálico quando o molho de chaves caiu ao chão.
– Cinco – sussurrou Stine.
A porta abriu-se e os sons da rua transbordaram pelo banco. Harry pensou
ouvir um familiar lamento moribundo à distância. Voltou a ouvi-lo. Sirenes da
polícia. Depois a porta fechou-se.
– Dois, Helge!
Harry fechou os olhos e contou até dois.
– Já está! – Fora Helge quem gritara. Abrira a segunda fechadura e agora
estava meio levantado, a puxar os cofres encravados. – Deixe-me apenas tirar
o dinheiro! Eu...
Foi interrompido por um guincho cortante. Harry olhou para o outro lado
do banco onde uma mulher olhava horrorizada para o assaltante imóvel, que
pressionava a arma contra o pescoço de Stine. Ela pestanejou duas vezes e,
muda, apontou com a cabeça na direcção do carrinho de bebé quando o grito
da criança aumentou de intensidade.
Helge quase caiu para trás quando o primeiro cofre se soltou. Puxou o saco
de desporto para junto de si. Passados seis segundos todo o dinheiro estava ali
enfiado. Klementsen fechou o saco conforme instruído, e ficou junto do
balcão. Fora tudo comunicado via Stine. A voz dela soava agora
surpreendentemente firme e calma.
Um minuto e três segundos. O assalto estava concluído. O dinheiro estava
dentro do saco de desporto. Dentro de instantes, iria aparecer o primeiro
carro-patrulha. Passados quatro minutos, outros carros da polícia iriam fechar
as rotas de fuga imediatas à volta do banco. Cada célula do corpo do
assaltante devia estar a gritar que era o momento de sair dali. E depois
aconteceu algo que Harry não compreendeu. Simplesmente não fazia
qualquer sentido. Em vez de fugir, o assaltante rodou a cadeira de Stine até
ela ficar virada para ele. Inclinou-se para a frente e sussurrou-lhe qualquer
coisa ao ouvido. Harry semicerrou os olhos. Um dia destes teria de ir ao
médico e fazer um exame aos olhos. Mas viu o que viu. Ela tinha os olhos
focados no rosto tapado do seu torturador. O rosto dela passou por uma
transformação lenta e gradual quando pareceu compreender o significado das
palavras que ele lhe segredou. As sobrancelhas finas e bem tratadas de Stine
formaram «s’s» por cima dos olhos, que agora pareciam querer irromper-lhe
da cabeça; o lábio superior contorceu-se para cima e os cantos da boca