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Mamco G-Con 45
orajoso Oleg.
– Vou ficar bem – dissera ele ao telefone. Uma e outra vez, como se tivesse
um plano secreto. – A mamã e eu voltaremos dentro de pouco tempo.
Harry encontrava-se junto da janela a olhar para o céu sobre o telhado do
edifício à sua frente, enquanto o sol de fim de tarde pintava de laranja e
vermelho a zona inferior de uma camada de nuvens estreitas e onduladas. A
caminho de casa a temperatura caíra abrupta e inexplicavelmente, como se
alguém tivesse aberto uma porta invisível e todo o calor tivesse sido sugado.
No apartamento, o frio começara a subir através do soalho. Onde é que
deixara as pantufas de feltro? Na cave ou no sótão? Teria mesmo pantufas?
Não se conseguia lembrar. Por sorte, assentara o nome do kit de PlayStation
que prometera comprar a Oleg, se ele conseguisse bater o seu recorde de
Tetris no GameBoy. Namco G-Con 45.
Atrás de si, as notícias zumbiam no televisor de 14 polegadas. Outra gala
para angariar fundos para vítimas. Julia Roberts a exibir a sua simpatia e
Sylvester Stallone a receber chamadas de doadores. E a hora da vingança
chegara. Imagens que mostravam encostas montanhosas a serem varridas por
bombas. Colunas negras de fumo a erguerem-se de rochas e nada a crescer
naquela paisagem desolada. O telefone tocou.
Era Weber. No Quartel-general da Polícia, e de um modo geral, a reputação
de Weber mostrava-o como um velho teimoso e rabugento, com o qual era
difícil trabalhar. Harry era de opinião contrária. Tinha-se apenas de estar
consciente de que ele se mostraria intratável se se fosse desrespeitoso ou se o
apressassem.
– Sei que estavas à espera dos resultados – disse Weber. – Não encontrámos
nenhum ADN na garrafa, apenas algumas impressões digitais muito ténues.
– Óptimo. Estava com receio de que pudessem ter sido destruídas, apesar de
a garrafa se encontrar dentro do saco de plástico.
– Por sorte era uma garrafa de vidro. A oleosidade das impressões numa
garrafa de plástico teriam sido absorvidas passados alguns dias.