Harry ouviu, em ruído de fundo, o som arranhado dos esfregaços de
amostras.
– Ainda estás a trabalhar, Weber?
– Sim.
– Quando é que vais verificar as impressões no banco de dados?
– Estás a apressar-me? – resmungou, desconfiado, o homem da equipa
forense.
– De modo nenhum. Tenho oceanos de tempo, Weber.
– Amanhã. Não sou nenhum génio de computadores e os tipos mais novos
já foram para casa.
– E tu?
– Só vou comparar as impressões com as de alguns indivíduos, mas à
maneira antiga. Dorme bem, Hole. O Senhor Lei^4 vai manter-se vigilante.
Harry pousou o auscultador, dirigiu-se ao quarto e ligou o computador. O
jingle chilreado do Windows afogou, por instantes, a retórica da vingança
americana na sala de estar. Clicou no vídeo do assalto em Kirkeveien. Passou
várias vezes o vídeo de má qualidade, sem ficar a saber mais ou a saber
menos. Clicou no icon do e-mail . Surgiu a ampulheta e a indicação de que
tinha correio. O telefone do vestíbulo voltou a tocar. Harry lançou um olhar
ao relógio antes de levantar o auscultador e dizer «olá» com a voz terna que
reservava para Rakel.
– Fala Arne Albu. Peço desculta por lhe ligar de noite, mas a minha mulher
deu-me o seu nome e pensei que pudesse esclarecer este assunto de imediato.
É-lhe conveniente?
– Óptimo – disse Harry acanhadamente, no seu tom de voz habitual.
– Bem, tive uma conversa com a minha mulher, e nenhum de nós ouviu
falar nessa mulher nem sabe como é que ela entrou na posse da fotografia.
Mas a fotografia foi revelada por um profissional, e talvez alguém que
trabalhe na loja tenha ficado com uma cópia. Também há muitas idas e vindas
na nossa casa, e assim podem existir muitas, muitas explicações possíveis.
– Hm. – Harry reparou que a voz de Arne Albu não tinha a mesma
compostura flagrante que tivera antes, naquele mesmo dia. Passados alguns
segundos de um silêncio apenas quebrado pela estática, Albu prosseguiu:
– Se precisar de falar mais a este respeito, pode contactar-me no meu