– Bravo, Harry!
Abriu os olhos. Grãos semelhantes a amibas faiscaram e flutuaram no seu
campo de visão.
– Bravo? – murmurou ele. – O que é que queres dizer?
– Puseste palavras naquilo que temos estado a ver durante todo este tempo.
Estás absolutamente certo, Harry. Eles estão demasiado próximos um do
outro.
– Sim, eu ouvi-me a dizer isso, mas demasiado próximos em relação a quê?
– Em relação ao modo como duas pessoas que nunca se conheceram
deviam estar.
– Eh?
– Alguma vez ouviste falar de Edward Hall?
– Não.
– Antropólogo. Foi o primeiro a demonstrar a ligação existente entre a
distância que as pessoas mantêm umas das outras e a relação que têm. Está
bastante bem documentada.
– Explica-me.
– O espaço social entre pessoas que não se conhecem varia entre um e três
metros e meio. É essa a distância que manterias se a situação o permitisse,
mas olha para as filas dos autocarros e as casas de banho. Em Tóquio, as
pessoas ficam muito próximas umas das outras e sentem-se confortáveis, mas
as variações de cultura para cultura são de facto relativamente menores.
– Ele não lhe pode sussurrar nada a mais de um metro de distância, pois
não?
– Não, mas poderia tê-lo feito com toda a facilidade do interior daquilo que
é conhecido como espaço pessoal, que é entre quarenta e cinco centímetros e
um metro. É essa a distância que as pessoas mantêm com desconhecidos e os
chamados «conhecidos». Mas como podes ver, o Executor e Stine Grette
quebraram essa fronteira. Medi a distância. É de vinte centímetros. Isso
significa que estão muito no interior do espaço íntimo. A essa distância estás
tão próximo do outro que não consegues manter focado o rosto dessa pessoa,
ou evitar o seu cheiro e calor corporal. É um espaço reservado a
companheiros ou parentes próximos.
– Hm – disse Harry. – Estou impressionado pelos teus conhecimentos, mas