– Sim – respondeu Beate, com um sorriso bondoso. – Gostaríamos de saber
como é que era Stine. Aquilo que fazia. Aquilo de que gostava. Os planos que
vocês tinham. Esse tipo de coisa.
– Esse tipo de coisa? – Grette olhou para Beate. Depois pousou a caneta. –
Íamos ter filhos. Era esse o plano. Bebés in vitro . Ela esperava ter gémeos.
Dois mais dois, dizia sempre. Dois mais dois. Estávamos prestes a começar.
Agora. – Os olhos encheram-se-lhe de lágrimas.
– Estavam casados há muito tempo, não estavam?
– Dez anos – disse Grette. – Se eles não jogassem ténis, eu não me teria
importado. Não se podem forçar as crianças a gostar das mesmas coisas que
os pais, pois não? Talvez tivessem preferido equitação. A equitação é
maravilhosa.
– Que tipo de pessoa é que ela era?
– Dez anos – repetiu Grette, de novo a olhar pela janela. – Conhecemo-nos
em 1988. Eu tinha começado a frequentar o Instituto de Gestão de Oslo e ela
estava no último ano na secundária de Nissen. Era a rapariga mais bonita que
eu alguma vez vira. Sei que todos dizem que a mais bonita é aquela que não
conseguimos namorar e que talvez até o tenhamos esquecido, mas com Stine
era verdade. Nunca deixei de achar que ela era a mais bonita. Fomos viver
juntos passado um mês, e estivemos juntos todos os dias e noites durante três
anos. No entanto, custou-me a acreditar que ela aceitara passar a ser Stine
Grette. Não é estranho? Quando se ama muito alguém, achamos
incompreensível que essa pessoa nos ame. Devia ser o contrário, não era?
Uma lágrima caiu no braço da cadeira.
– Era bondosa. Já há poucas pessoas que valorizem essa qualidade. Era de
confiança, leal e sempre amável. E corajosa. Se pensava ter ouvido ruídos no
piso inferior e eu estivesse a dormir, levantava-se e descia as escadas. Eu
dizia-lhe que ela me devia acordar porque um dia poderia haver mesmo
ladrões dentro de casa. Mas ela limitava-se a rir e respondia: Então ofereço-
lhes waffles e o cheiro das waffles vai acordar-te, porque te acorda sempre.
O cheiro das waffles era suposto acordar-me quando... sim.
Respirou pelo nariz. No exterior, os ramos nus da bétula sacudiram-se sob o
vento forte.
– Devias ter feito waffles – sussurrou. Depois tentou rir-se, mas parecia
estar a chorar.
– Como é que eram os amigos dela? – perguntou Beate.