Grette ainda não acabara de se rir, e ela teve de repetir a pergunta.
– Gostava de estar sozinha – disse ele. – Talvez porque fosse filha única.
Era muito chegada aos pais. E depois tínhamo-nos um ao outro. Não
precisávamos de mais ninguém.
– Poderia estar em contacto com outras pessoas que você não conhecesse? –
perguntou Beate.
Grette olhou para ela.
– O que é quer dizer?
As faces de Beate transformaram-se num vermelho-forte e esboçou um
sorriso rápido.
– Quero dizer que é possível que a sua mulher não lhe tenha transmitido
conversas, que tivesse tido com todas as pessoas que conhecia.
– Porque não? O que é que está a tentar dizer?
Beate engoliu em seco e trocou um olhar com Harry. Ele encarregou-se da
situação.
– Nas nossas investigações, temos sempre de examinar todas as
possibilidades por mais improváveis que elas sejam. E uma delas é que alguns
dos empregados bancários podem estar conluiados com os assaltantes. Às
vezes há ajuda interna quer com o planeamento quer com a execução do
trabalho. Por exemplo, há poucas dúvidas de que o assaltante sabia as horas
em que voltariam a encher a caixa ATM. – Harry observou o rosto de Grette à
procura de sinais sobre o modo como estava a aceitar aquilo que ele lhe dizia.
Mas, pelos seus olhos, percebeu que o homem se voltara a afastar. – Fizemos
as mesmas perguntas a todos os outros empregados – mentiu.
No exterior, uma pega em cima da árvore guinchou. Um som queixoso,
solitário. Grette assentiu. A princípio devagar, depois mais depressa.
– Ah – disse ele. – Compreendo. Vocês acham que foi por isso que mataram
Stine. Pensam que ela conhecia o assaltante. E que quando ele acabou de a
usar, matou-a para remover todas as pistas possíveis. É isso?
– Bem, pelo menos é uma possibilidade teórica – disse Harry.
Grette sacudiu a cabeça e voltou a rir-se. Gargalhadas tristes, ocas.
– É óbvio que não conheciam a minha Stine. Ela nunca faria nada parecido
com isso. E porque o faria? Se tivesse vivido mais algum tempo, seria
milionária.